79 | I Série - Número: 089 | 5 de Junho de 2009
É o caso dos serviços responsáveis pela emissão de pareceres no âmbito dos processos de estudo e avaliação do impacte ambiental estratégico que foram transferidos para o Palácio da Ajuda, registando-se, neste momento, um atraso de mês e meio nos respectivos trabalhos.
É também o caso dos laboratórios de arqueociências, que continuam a funcionar por entre escombros, ruído de máquinas, pó e as demolições que se vão sucedendo e que, mantendo-se ainda nas instalações da Av. da Índia, têm o futuro marcado pela incerteza e vão assistindo à morte lenta que lhes foi ditada pelo Ministério da Cultura.
A este propósito, há que notar, Sr.as e Srs. Deputados, que, dos sete investigadores a trabalhar naqueles laboratórios de arqueociências, cinco estão contratados como bolseiros, nalguns casos desenvolvendo um trabalho internacionalmente reconhecido, e corremos o risco de, muito em breve, se irem embora em busca de novas perspectivas de trabalho com estabilidade, como é o caso de uma investigadora espanhola que, provavelmente, em Outubro, irá para Madrid.
Por outro lado, há aqui um problema que tem de ser resolvido urgentemente e que tem que ver com os vários museus que são afectados por este projecto e que, neste momento, estão em situação de completa instabilidade, entre os quais se incluem os dois mais visitados do País, o Museu dos Coches e o Museu Nacional de Arqueologia.
Não faz sentido que o Governo não oiça ninguçm, esconda documentos, não divulgue os projectos»
O Sr. Presidente: — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo, Sr. Presidente.
Como dizia, não faz sentido que o Governo mantenha em completo secretismo os exactos contornos desta sua decisão, sem querer discutir seja com quem for uma perspectiva que agradasse a toda a gente, que fosse uma verdadeira decisão do ponto de vista cultural e de política museológica, uma decisão que servisse os interesses do País — e é tão-só isso o que o PCP propõe.
A única coisa que o PCP propõe são medidas de bom senso: que se suspenda este processo para se discutir com todas as entidades envolvidas; que se analisem todas as perspectivais de futuro em relação a esta decisão concreta; que as decisões a tomar possam ser devidamente participadas pelas entidades envolvidas, as quais podem dar um contributo indispensável para uma boa política cultural e museológica no nosso país.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Rosas.
O Sr. Fernando Rosas (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, do estudo desta questão e da visita que os Deputados da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura fizeram aos vários museus que estão em causa, tirei cinco conclusões muito breves que gostaria de partilhar com o Plenário.
Em primeiro lugar, uma dúvida: se havia disponibilidade financeira para construir um museu de raiz, por que é que, politicamente, se optou, sem discussão, pelo Museu dos Coches e não pelo Museu de Arqueologia? Pusemos esta questão aos responsáveis e a resposta esteve longe de ser aceitável. Basicamente, acontece o seguinte: neste caso, a opção comercial do turismo prevaleceu sobre a opção de raiz e de interesse cultural — o Museu dos Coches tem 1 milhão de visitantes, é um bom negócio; a fazer-se algum museu, faz-se o dos Coches e transfere-se o de Arqueologia. Esta é uma solução possível, mas altamente discutível e que tinha de ser discutida! Praticamente, isto foi tudo feito à sorrelfa! Segunda questão: por que é que, em relação às obras do Museu dos Coches, não houve concurso nem para o arquitecto nem para a realização da obra? Esta é uma questão muito importante, porque os Srs. Deputados constatarão que é uma obra de grande envergadura. Não estou a discutir o mérito nem o alcance da obra, mas é uma obra de grande envergadura, que vai marcar paisagisticamente a zona urbana da cidade. Por que é que não houve concurso nem para o arquitecto nem para a obra? Não era preciso ter-se discutido isto?! Penso que era!