26 I SÉRIE — NÚMERO 90
também não subscreve esta forma de fazer política que assenta na propaganda e em fingir que faz mas não
faz.
O PSD, no entanto, traz hoje a debate mais matérias em torno de problemas ambientais específicos, com
propostas concretas.
O projecto de lei em discussão propõe a consideração positiva, para efeitos de contratação e adjudicação
pública, de empresas e serviços que incluam nos projectos maior preocupação ambiental, nomeadamente no
que toca à incorporação de materiais reciclados ou reutilizados.
O PCP entende que esta proposta do PSD faz todo o sentido e converge com a estratégia política que
deve ser adoptada no direito português.
A valorização, neste caso a majoração, dos comportamentos ambientalmente mais sustentáveis deve ser
um instrumento de estímulo também dirigido ao mercado e às empresas privadas.
Por isso mesmo, sendo embora um projecto de lei que apenas altera um artigo de um decreto-lei, ele
transporta um importante alcance, tendo em conta a dimensão das contratações públicas e das obras,
projectos e serviços abrangidos por essas formas de contratação.
O projecto de resolução para a racionalização dos sistemas de tratamento de resíduos sólidos urbanos,
que o PSD também apresenta, segue o caminho já iniciado pelo PSD num anterior projecto de resolução
discutido em 2006. Ele assenta o seu conteúdo numa perspectiva de mercado, de criação de um mercado e
na aglomeração dos sistemas existentes em super-estruturas, que além de, como anuncia o PSD, gerarem
economias de escala, também geram, curiosamente, novas e grandes oportunidades de mercado e de
privatização.
Desse projecto podemos concluir que o PSD também refinou o seu discurso. Em 2006, propunha
frontalmente a fusão dos 29 sistemas multimunicipais e intermunicipais em apenas 5, concentrando e
possibilitando a futura entrega de um valioso pacote a empresas privadas, ainda que, na altura, passasse por
cima das autarquias.
Hoje, o PSD baixa um pouco a bitola e propõe a realização de estudos que envolvam também as
autarquias. Percebeu que não poderia impor a fusão e o rearranjo dos sistemas às autarquias e, então, propõe
um estudo que contemple as autarquias. Mas isso não oculta a verdadeira intenção, inequívoca, que persiste,
e que se lê até na exposição de motivos. Essa intenção não conta com o apoio do PCP.
O projecto do PSD para a criação de uma entidade gestora de um sistema integrado de óleos alimentares
usados coloca, em primeiro lugar, a necessidade da criação de um verdadeiro sistema integrado para estes
resíduos. Valorizamos essa proposta, nomeadamente, no que toca à necessidade de inventariação e
concretização de uma estrutura de acompanhamento ao tratamento, revalorização e reutilização dos óleos
alimentares usados.
A criação dessa entidade, porém, tal como o PSD a propõe, não é clara sobre a sua natureza e perfil. Aliás,
assim até parece que a única preocupação do PSD é criar mais uma fileira de negócio, mais uma área de
mercado.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Se calhar!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — No entanto, clarificada que está a posição do PCP sobre essa matéria e,
sem excluirmos a participação dos privados, mas valorizando o papel do Estado, o PCP também apoiará esse
projecto.
Sem deixar de valorizar os contributos que o PSD apresenta, ainda que não subscrevendo todas as
medidas que propõe, não podemos deixar de tornar a evidenciar as contradições inerentes a uma política de
direita e a sustentabilidade dessa política. Não será com a criação de mercados, mais rápida ou mais
lentamente, pelo PS ou pelo PSD, nem com as privatizações de serviços, que se resolverão os problemas
centrais da nossa relação com a natureza. Só mesmo uma ruptura democrática e de esquerda que se
sobreponha aos interesses do capital privado poderá romper com a desastrosa política de ambiente que se vai
vivendo.
Aplausos do PCP.