20 DE JUNHO DE 2009 7
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O Sr. Francisco Madeira Lopes (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr. e Srs.
Deputados: O Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes», Sr. Ministro do Ambiente, tomou a
decisão de agendar esta interpelação sobre ambiente, desenvolvimento e política energética do Governo no
dia em que foi publicamente conhecido o aval político dado pelo Ministério do Ambiente ao Estudo de Impacto
Ambiental da Barragem da Foz do Rio Tua.
A homologação política do parecer favorável condicionado da avaliação de impacto ambiental daquela
barragem constituiu a «gota de água» que fez transbordar o limite da paciência face à incúria de um Ministério
que, de Ambiente, tem cada vez menos!
Com este acto, que é apenas mais um duma cadeia de actos políticos danosos a que nos foram
lamentavelmente habituando, o Governo carimbou mais um atentado ambiental, atentado ao potencial de
desenvolvimento económico local, atentado ao património cultural da Humanidade do Alto Douro classificado
pela Unesco, atentado a uma das mais belas linhas ferroviárias, a linha do Tua, que tanto potencial de
mobilidade e afirmação em si encerra, atentado à sustentabilidade social e ambiental do território, e reafirmou
aquela que tem sido a linha de força desta Governação: teimosia, arrogância e cegueira política.
Protestos do PS.
Teimosia pela insistência em opções energéticas que são falsas soluções para os problemas energéticos
de Portugal.
Arrogância que os leva a desprezar o coro de críticas de especialistas, académicos, ambientalistas,
populações, associações locais e nacionais.
Cegueira política de quem não quer ver quando os impactos negativos são claramente superiores aos
benefícios prometidos.
A barragem da Foz do Tua é o exemplo mais acabado disso mesmo, integrada no chamado Programa
Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico, um programa apresentado como verde e como
novo mas que nada tem nem de novo nem de verde!
Apesar da vergonhosa mega campanha que a EDP e o Governo têm promovido, de publicidade enganosa,
mobilizando avultados meios nas televisões, rádios, imprensa e Internet, com o intuito de ludibriar os
portugueses, lavar a cara ao programa ou afogar a sua má consciência, Os Verdes não se calarão na
denúncia do que esta opção verdadeiramente representa.
Um Programa Nacional de Barragens que agrava a qualidade da água, num País em que 43% dos
recursos hídricos de superfície se encontram em mau ou muito mau estado, como acontecerá
necessariamente com a eutrofização (como, aliás, alerta o Presidente da Administração da Região
Hidrográfica do Norte) causada pelas barragens e agravada pelos cenários de seca que são expectáveis.
Um Programa que descarta por completo a gestão por bacia já que se antecipa aos planos de
ordenamento das bacias hidrográficas, ainda inexistentes e que deveriam ser o instrumento basilar e prévio de
ponderação e definição de estratégias e prioridades em relação aos nossos rios, nomeadamente no que toca à
construção das infra-estruturas mais pesadas e destruidoras que se podem impor a uma linha de água e cujos
impactos profundamente negativos são por todos reconhecidos.
Um Programa que desconsidera os cenários do IPCC (Painel Inter-Governamental para as Alterações
Climáticas) para Portugal que apontam uma redução da capacidade de produção hídrica por falta de chuvas
em 20% até 2020 e de 50% até 2070, o que tornará ainda mais diminuto e pouco significativo o seu futuro
contributo energético e climático, pondo mesmo em causa as expectativas e previsões que o Governo faz.
Um programa que dá de barato, por aceitáveis, os impactos directos na biodiversidade, na fauna piscícola,
avícola e outros vertebrados, na flora rupícola, nos solos agrícolas e florestais, como sumidouros de CO2 e
suporte de habitats.
Não se fala nem nunca foram avaliados os impactos no regime de inertes e transporte de areias para o
litoral, factor fundamental de protecção da nossa costa contra a erosão e que será enormemente agravado
com mais barragens, nomeadamente na região hidrográfica da bacia do Douro, a qual é já a mais sacrificada a
nível nacional e que tem custos, inclusivamente económicos, pesadíssimos — veja-se os milhões que temos
de alocar em planos de defesa da costa e transporte artificial de inertes por rodovia para encher as praias.