35 | I Série - Número: 008 | 1 de Outubro de 2010
Vozes do PSD e do PCP: — Ahhh»!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Desculpar-me-á, mas tenho o direito de fazer perguntas, Sr.ª Deputada! E uma das perguntas que, realmente, resulta do nosso debate é esta: qual seria a sua solução? Ora, ao que julgo intuir da «mõsica de fundo« da sua intervenção,»
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — O Sr. Primeiro-Ministro é muito intuitivo!
O Sr. Primeiro-Ministro: — » a Sr.ª Deputada contentar-se-ia em derrubar o capitalismo — talvez criar um «muro«»! A Sr.ª Deputada desculpar-me-á, mas eu não posso acompanhá-la nessa solução! Se não se importa, Sr.ª Deputada, diga-me qual é o seu contributo para responder à situação. Ou acha que o facto de a dívida portuguesa estar com um nível de desconfiança dos mercados não merece uma resposta do Governo?! Acha que devemos ser insensíveis a isso?! Ou será que nos devemos comportar como se essa situação não existisse?! Sr.ª Deputada, desculpe, mas acho que temos o dever de fazer alguma coisa para dar garantias de financiamento ao futuro da nossa economia, porque são o emprego, o Estado, as prestações sociais do Estado, que são financiadas por esses mercados internacionais, que estão em causa, se não fizermos aquilo que é imperioso fazer para dar a confiança de que os números da estabilidade das nossas contas públicas serão atingidos. Este é o desafio! Sr.ª Deputada, compreendo que muitos Deputados não queiram olhar para este problema com responsabilidade, achando que isto não é, realmente, um problema do País e que talvez pudéssemos «virar a cara» para outro lado, evitando-o. Mas, Sr.ª Deputada, desculpar-me-á, acho que este problema das contas põblicas»
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — É muito injusto!
O Sr. Primeiro-Ministro: — É muito injusto! Eu sei! Eu sei que é muito injusto! É injusto porque esta crise internacional foi fomentada e criada pela ausência de regulação dos mercados financeiros e a crise que agora estamos a viver da dívida soberana é uma consequência daquilo que foi a ajuda que os Estados deram para manter os sistemas financeiros! Eu sei como se deve sentir o Primeiro-Ministro irlandês ao ter uma crise da dívida soberana que é consequência da ajuda que ele deu ao sistema financeiro, o qual não esteve à altura das suas responsabilidades! Mas a verdade, Sr.ª Deputada, é que, ao mesmo tempo que devemos agir sobre esta realidade, criando uma nova regulação do sistema financeiro, não temos o direito de esconder e temos de dar também uma resposta à crescente desconfiança sobre a dívida soberana de alguns países, entre os quais o nosso.
É por isso que acho que estas medidas são necessárias.
O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, peço-lhe que conclua!
O Sr. Primeiro-Ministro: — É preciso coragem para as tomar? É, Sr.ª Deputada! Mas é preciso, fundamentalmente, ter a lucidez de perceber que este é o interesse de todos, que este é o interesse nacional! E é aqui, neste terreno, que se separa aquilo que é o cálculo político e a motivação da popularidade e aquilo que é a responsabilidade! Como eu disse ontem, Sr.ª Deputada, não está outra coisa no meu espírito que não seja a defesa do interesse nacional. E este é o momento para todos pormos de lado outras considerações. A verdade é que o País exige que todos os responsáveis políticos estejam à altura da situação e dêem o seu melhor para darmos uma resposta à altura dos problemas que temos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.