14 | I Série - Número: 046 | 3 de Fevereiro de 2011
Vozes do PS: — Negociata?!»
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — » entre o PS e o PSD, não ç uma reorganização que obedeça objectivamente às necessidades da população de Lisboa.
O Sr. Deputado bem sabe que esta centralização do debate em torno da reforma administrativa da cidade visa, no essencial — neste caso a consonância entre PS e PSD foi evidente — , disfarçar a erosão e os efeitos que a política de direita, protagonizada tanto por um partido como por outro, tem vindo a provocar na cidade, tentando remeter o problema para a questão administrativa. E o mapa de redução de 53 para 24 freguesias, que merece o acordo do PS, do PSD e dos independentes que apoiaram a candidatura do PS — Sá Fernandes, Helena Roseta e Nunes da Silva — não passa disso mesmo, ou seja, de um mapa de gestão de interesses partidários e do favorecimento à perspectiva que PSD e PS, ao contrário do que nos querem fazer crer com os arrufos habituais, estão no essencial de acordo com a política de gestão autárquica que tem vindo a ser levada a cabo em Lisboa.
Diz-nos o Sr. Deputado que esta é uma matéria profunda, que é uma reforma profunda, um acordo profundo, mas foi estabelecido nos gabinetes, à revelia e nas costas da população, fundindo freguesias em muitos casos com profundos antagonismos histórico-culturais.
A proposta que se nos apresenta, inclusivamente ao arrepio dos próprios estudos e das previsões que fundamentam o PDM, que — pasmemos! — , curiosamente, foi aprovado pelas mesmas forças que agora concorrem para esta reorganização, ignorando até os estudos que legitimaram o acordo no PDM, é esta negociata como forma de dividir o mapa de Lisboa, ao sabor dos interesses do PS e do PSD, desta alternância, sem alternativa, para esconder que o problema de Lisboa, o facto de continuarmos na ausência das respostas necessárias para a população, não se prende tão-só com as questões administrativas, mas sim com as opções políticas.
Termino, Sr. Deputado, dizendo que os interesses partidários, como já sabemos, não são inimigos, são muito amigos, nunca duvidámos disso, são, aliás, duas faces da mesma moeda: PS com D ou PS sem D. Mas o que nos preocupa mais, Sr. Deputado, é que por trás desses interesses estão outros interesses, à sombra, que disputam a cidade de Lisboa, que disputam desde as águas, desde o saneamento, até aos créditos de construção, que disputam o território, que disputam a especulação imobiliária.
O Sr. Presidente (Luís Fazenda): — Sr. Deputado, queira terminar.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — E são esses interesses que «predam» a cidade, enquanto o PS e o PSD se satisfazem com os acordos entre amigos, que é urgente denunciar.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Luís Fazenda): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Coelho.
O Sr. Miguel Coelho (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, com todo o respeito e consideração, devo dizer-lhe — até porque o PCP para mim também não é um inimigo — que já não há paciência para esse tipo de discurso. Na cidade de Lisboa, estivemos coligados durante anos. Acha que foi uma negociata? Quando fizemos o acordo acha que andámos a fazer uma negociata?
Aplausos do PS.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Miguel Coelho (PS): — Sr. Deputado, é preciso ter lata para vir aqui falar em negociatas e em interesses! Trata-se do interesse da cidade. Nós queremos construir um futuro melhor para a cidade de Lisboa