22 DE SETEMBRO DE 2012
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Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, em nome do PCP, o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa para formular
perguntas.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, estava a ouvi-lo com um certo
espanto. Pela sua intervenção, parece que nada se passou desde o último debate que aqui realizámos. Ao
ouvi-lo, não podemos deixar de dizer que nada, mesmo nada, justifica o que o Governo está a fazer à vida dos
portugueses e ao País. Não há justificação para tanta injustiça, para tanta malfeitoria como a que este
Governo está a realizar.
Depois de um ano de dolorosos e dramáticos sacrifícios para a larga maioria do povo, com consequências
trágicas para o País, foram anunciadas novas medidas de mais austeridade, de mais sacrifícios dolorosos,
particularmente para os trabalhadores. Desde logo, essa inqualificável medida de alteração da taxa social
única, com transferência direta de milhares de milhões de euros, resultantes do trabalho dos trabalhadores,
para o bolso das grandes empresas e dos grandes grupos económicos, acompanhada de outras medidas, é
verdade.
Mas a questão de fundo é que essas medidas não foram a razão única do clamor nacional que se levantou,
das poderosas manifestações de protestos e de indignação que se verificaram. Ela foi a «gota de água» que
fez transbordar o «cálice» da vida amarga que os portugueses estão a passar neste momento.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Isto não é um ato isolado, não é um ato único, porque resulta de facto
desse pacto de agressão, do memorando que permanentemente invoca para aplicar essas medidas dolorosas
sobre quem trabalha ou quem vive dos seus pequenos rendimentos.
O Governo falhou! Falhou porque, ao contrário do que dizia, por exemplo, em julho ano passado, o Sr.
Primeiro-Ministro anunciava o corte de parte do subsídio de Natal para funcionários públicos e reformados,
garantindo que isso só aconteceria em 2011, e em outubro anunciava o corte total dos subsídios de natal e de
férias para os mesmos em 2012 e em 2013; passados uns meses já ia em 2014 e, agora, ao que se sabe,
atinge também violentamente os trabalhadores do setor privado com o roubo de um salário por ano.
Um ciclo sem fim de medidas gravosas, de um Governo em que já ninguém acredita, de um Governo que
poderemos considerar que está fora de prazo. E eu acrescento, Sr. Primeiro-Ministro: este Governo não se
limitou a extorquir direitos, salários, subsídios, rendimentos, criando mais desemprego, quis roubar a
esperança à maioria dos portugueses, particularmente às novas gerações.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Em nome do amanhã que nunca chega, quis colocar e exercitou uma
questão dilemática: ou a ameaça da bancarrota ou as injustiças, o empobrecimento, os sacrifícios dolorosos, a
destruição de vidas.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — No fundo, aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro quis dizer aqui, e,
sistematicamente, tem repetido, é que os portugueses têm de escolher uma das duas árvores em que se
querem enforcar.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Ou seja, a chantagem da bancarrota ou aceitarem definitivamente
esse empobrecimento e esse atraso do País.