I SÉRIE — NÚMERO 10
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Porém, não compreender devidamente os problemas de hoje pode levar-nos a tropeçar no caminho
sustentável que todos desejamos para Portugal. E refiro «todos» porque pensar Portugal hoje não é um
problema de avaliação da matriz esquerda-direita, não é também um problema de conservadorismo versus
progressismo, de liberalismo contra socialismo e até de Monarquia face à República; é, antes, um problema
que tem que ver com a origem de uma cultura política centralista e excessivamente dependente de um Estado
tentacular que se impôs a todos os regimes políticos, económicos e sociais.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Paulo Batista Santos (PSD): — A um Estado de má memória em tempos de ditadura seguiu-se um
Estado omnipresente, que impediu o desenvolvimento de uma sociedade forte e verdadeiramente livre para
fazer as suas escolhas.
Sem pretender minimizar as mudanças positivas havidas nas últimas quatro décadas de democracia — e
elas foram, felizmente, como sabemos, muitas —, o certo é que todos nós olhamos o presente com grande
apreensão e necessitamos, por isso, de mobilizar todas as nossas forças e saber para inverter esta tendência,
pugnando por uma sociedade forte e moderna.
E neste particular de busca de uma sociedade mais justa e moderna, permita-me, Sr.a Presidente, que abra
aqui um parêntese no dia em que a Assembleia da República presta a sua homenagem à cirurgiã, ilustre figura
da 1ª República e ativista dos direitos femininos, Carolina Beatriz Ângelo, que foi a primeira mulher a votar em
Portugal, e dirija, em nome da bancada do PSD, o reconhecimento a outra grande mulher, a magistrada Joana
Marques Vidal, indigitada como a próxima procuradora-geral da república, no registo histórico que marca a
primeira vez que uma mulher lidera o Ministério Público.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Expressamos daqui as nossas felicitações e votos de sucesso na difícil tarefa de promoção de um
Ministério Público autónomo, eficaz e independente.
Fechado este parêntese, Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, todos temos presente que o País precisa
de continuar a realizar um programa de ajustamento que afaste de vez o espetro de colapso financeiro e de
risco para a coesão social, bem como que evite a perda de mais graus de autonomia face ao exterior.
Na situação a que o País chegou, que é de graves dificuldades financeiras e de excesso de endividamento,
as reformas a empreender já não são uma opção, são, infelizmente, uma necessidade imposta pela realidade.
E a nossa realidade, hoje, chama-se, Sr.as
e Srs. Deputados, intervenção externa, chama-se Programa de
Assistência Económica e Financeira, chama-se troica, chama-se FMI, Banco Central Europeu e Comissão
Europeia.
Este é o caminho que conhecemos desde meados de 2011 e com o qual teremos que conviver até junho
de 2014.
Sabemos que é um caminho estreito, que exige sacrifícios, que gera austeridade e que potencia situações
de risco social a que importa atender.
Sabemos também que é um caminho de incerteza para muitos portugueses que conhecem o desemprego,
cortes no rendimento familiar e dificuldades várias em resultado de uma crise provocada por inúmeros erros
políticos e por tantos desequilíbrios económicos que o País acumulou nestes últimos anos.
Sabemos ainda que os trabalhadores por conta própria e os empresários enfrentam níveis de contração da
sua atividade económica muito preocupantes, em larga medida em resultado das condições de financiamento
extremamente adversas enfrentadas pela generalidade dos agentes económicos.
Numa palavra, o forte ajustamento que o País está a realizar, num contexto de grave crise — não há que
ter medo das palavras —, gera um sentimento de incompreensão junto dos portugueses.
Por isso, nunca como hoje foi tão importante afirmar aos portugueses que há um caminho difícil a
prosseguir, mas também há um futuro a conquistar, um futuro pós-troica que todos reclamamos mais justo,
solidário e sustentável, pelo qual este Parlamento deve envolver-se e, sobretudo, mobilizar os portugueses.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A principal mensagem que hoje pretendemos levar aos
portugueses é uma mensagem de determinação no objetivo de recuperar o País, sem vender ilusões e