I SÉRIE — NÚMERO 10
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Falou V. Ex.ª na questão da sustentabilidade. Habituámo-nos, nos últimos anos, a falar de políticas
sustentáveis em várias áreas, desde logo no ambiente, na educação, na saúde, e demasiado poucas vezes
falamos de sustentabilidade das contas públicas nacionais.
De facto, o caminho dos últimos anos foi um caminho de insustentabilidade, de aumento do défice e da
dívida, como aqui referiu, de um peso enorme do Estado e da despesa pública na economia portuguesa e
trouxe-nos ao momento em que essa insustentabilidade rebentou e nos obrigou a pedir ajuda externa por não
termos mais condições para financiar as contas públicas do Estado.
Sabemos que o caminho do Memorando de Entendimento não é fácil, mas porventura seria muito mais
difícil o caminho de ajustar as contas públicas num ano com a bancarrota pública, passando de imediato de
um défice de 8%, 9%, 10%, que era o que existia nos anos anteriores ao Memorando, para um défice de 0%.
O caminho do Memorando exige que façamos esforços, que conhecemos, e reconhecemos que é difícil. É
evidente que em democracia há sempre alternativas, mas julgamos que as alternativas seriam ainda mais
difíceis.
V. Ex.ª tocou também — gostaríamos de acentuar isso — num ponto fundamental: o caminho que estamos
a fazer não é para voltarmos àquilo que tínhamos e que nos trouxe à situação atual. O País e as contas
públicas têm que ter uma solução, e terão com certeza um grande futuro. Não é por acaso que somos o País
mais antigo da Europa, mas seremos com certeza, e continuaremos a ser, um País que tem futuro.
O que gostaria de perguntar-lhe, Sr. Deputado, é se não acha que esse futuro, o momento pós-troica, o
momento em que voltarmos aos mercados, o momento em que reconquistarmos (é preciso dizê-lo) a nossa
soberania, tem de ser diferente do passado, um futuro em que o Estado ajuste as suas despesas às condições
do País e em que são sejam sempre o País e as pessoas a ajustar as suas vidas à dimensão do Estado.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.a Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Paulo Batista Santos, a
determinada altura, na sua intervenção, utilizou uma expressão do género «nós comprometemo-nos, de novo,
com os portugueses» — sublinho «de novo» propositadamente.
Gostava de perguntar ao Sr. Deputado se considera legítimo, da sua parte e da parte da sua bancada,
pedir aos portugueses que acreditem em novos compromissos por parte da maioria parlamentar ou do
Governo. É que se tornou insustentável acreditar em qualquer tipo de compromisso que os senhores possam
assumir.
Vozes do PCP: — É claro!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Deputado, disseram que não aumentavam o IVA, e o IVA
aumentou, brutalmente! O setor da restauração que o diga! Não é verdade, Sr. Deputado? Quantas e quantas
empresas deste setor estão a encerrar diariamente!
Disseram que não tocavam no IRS. Ah, pois não! Para o ano, vamos senti-lo na pele, e bem duro! Não é
verdade, Sr. Deputado?
Quanto ao IMI, há essa brutalidade que os senhores agora vêm propor às pessoas que já têm dificuldade
em pagar a sua casa. Trata-se de mais um acréscimo de dificuldade nessa brutalidade!
É tudo a agravar, tudo a agravar! E os salários? Sempre a cortar, sempre a cortar! E as pensões? Sempre
a cortar, Sr. Deputado!
Isto está a tornar-se de tal modo insustentável que o Sr. Deputado não tem legitimidade para falar num
futuro promissor pós-troica. Como é que o Sr. Deputado pode dizer isso? É isso que o Sr. Deputado promete
aos portugueses para 2014?!
Ó Sr. Deputado, claro que os portugueses quase podem adivinhar que, em 2014, vão ter uma altíssima
taxa de desemprego. Isto repercute-se na vida concreta das pessoas! Vão ter uma economia de rastos,
porque os senhores andam a matar, diariamente, o mercado interno! Vão ter um País muito mais empobrecido
do ponto de vista económico e social! É este o futuro promissor?!