I SÉRIE — NÚMERO 18
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Nada disto foi feito no passado.
O ataque do Governo às rendas excessivas começou desde o início, por exemplo na energia e no mercado
farmacêutico. Em 2013, essa ação promotora de equidade social e de eficiência económica prosseguirá ainda
com maior intensidade.
A recente decisão do Tribunal Constitucional, porém, não permite que se mantenha um equilíbrio maior
entre aumento da receita e diminuição da despesa. Mas o Governo mantém o compromisso de, no cômputo
global do processo de ajustamento, isto é, agregando os anos entre 2011 e 2014, dar preponderância aos
cortes na despesa e não à receita.
O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — E assim faremos. Não estou a falar de um futuro longínquo, mas de um
trabalho que terá resultados a breve prazo. Contamos ainda, em 2013, poder começar a aplicar reduções de
despesa que possam, a prazo, aliviar o peso fiscal que fomos forçados a aumentar na proposta de lei de
Orçamento para 2013. Mas, até ao final de 2014, essa redução muito significativa da despesa estará
inteiramente concretizada.
Contudo, todos sabemos que, no essencial, as reduções de despesa compatíveis com a manutenção da
atual estrutura do setor público chegaram muito próximo do seu limite com os cortes efetuados em 2011 e
2012 e com os que estão previstos para o ano de 2013. É por isso que precisamos de acelerar o processo de
reequilíbrio estratégico das funções e estruturas do Estado em Portugal. Todos estamos convocados para este
desafio, para este debate de ideias e de propostas concretas, que diz respeito ao futuro de todos os
portugueses.
É evidente que os partidos políticos têm responsabilidades acrescidas nesta discussão, mas todos os
setores da nossa vida coletiva devem sentir-se envolvidos: desde os parceiros sociais até aos agentes da
sociedade civil.
Não se trata de uma questão meramente orçamental, embora todos saibamos que a expressão orçamental
destas reformas não pode ser ignorada e que, nas atuais circunstâncias, adquiriu até um carácter de urgência.
Com efeito, esta é uma matéria que vai muito além do Orçamento.
É preciso olhar para ela como uma rearticulação das funções do Estado, como uma reorganização das
suas estruturas, como a exigência de um salto de qualidade na prestação dos serviços públicos, como um
apelo a uma maior integração entre a sociedade civil e o aparelho institucional do setor público, como um
passo decisivo para o escrutínio reforçado da ação do Estado, como uma agenda para a mobilização eficiente
e para a afetação equitativa dos recursos públicos em Portugal.
São reformas que devem obedecer a dois princípios gerais e razoáveis para todos: o Estado só deve fazer
o que fizer bem e deve fazer muito melhor aquilo que não pode deixar de fazer porque só a ele cabe a
responsabilidade de providenciar.
Com efeito, o decurso do nosso programa veio mostrar que os desafios que enfrentamos são realmente
desafios enormes. São desafios de uma geração, desafios de que depende muito o nosso futuro.
Julgo que existe hoje um consenso amplo no País de que é preciso fazer uma reforma estrutural do Estado
se queremos ultrapassar a crise. Os nossos problemas não são apenas orçamentais. Temos problemas que
não podem ser resolvidos com aumento de impostos ou com mais compressão da atual estrutura de despesa.
Esta foi, provavelmente, a grande aquisição da primeira fase do nosso programa: o desenvolvimento de um
consenso nacional sobre a necessidade de repensar o Estado para além das variáveis orçamentais, mas
incluindo, evidentemente, estas variáveis.
Não era possível ter lançado as bases desta reforma mais profunda sem que este consenso tivesse sido
criado. Já para não mencionar o facto de termos atribuído uma prioridade natural às emergências mais
prementes e imediatas, que neste últimos 15 meses foram muitas. Mas neste momento estamos mais
próximos de atacar realmente a causa primeira dos nossos problemas, estamos mais próximos de reformar as
falhas qualitativas que estão na origem das distorções quantitativas que todos conhecem. Por isso, falei há
dias de uma refundação, isto é, da necessidade de voltar ao princípio fundador, …
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — «Afundador»!