28 DE DEZEMBRO DE 2012
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generalidade das situações. Assim sendo, Portugal está absolutamente abandonado nas atuais circunstâncias,
e ainda muito mais a partir do momento em que os sucessivos Governos portugueses aceitaram que a política
em relação às pescas e aos fundos marinhos seja de absoluta exclusividade da União Europeia e não uma
competência partilhada.
Portanto, Sr. Deputado Ulisses Pereira, talvez o bacalhau, porque também é um símbolo desta época,
tenha bafejado a sorte deste Plenário extraordinário e extravagante que estamos a realizar no dia de hoje,
mas, já agora, diga-nos como é que essa estrelinha vai resolver o problema da política comum de pescas.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Ulisses Pereira, o início da sua declaração
política ainda nos fez temer que, em vez de uma declaração política sobre pescas, tivéssemos uma
declaração política sobre os Descobrimentos. Mas, afinal, lá veio o tema das pescas!…
Congratulamo-nos com a discussão deste tema na Assembleia da República, tal como nos congratulámos
no Parlamento Europeu com a rejeição da proposta de introdução de um sistema obrigatório de concessões
de pesca transferíveis, pelo que isso significava de mais um passo no sentido da privatização do recurso
público que é o mar. Portanto, obviamente que nos congratulamos aqui, como nos congratulámos no
Parlamento Europeu com a rejeição dessa proposta.
Continuamos, no entanto, a julgar que não são, ainda assim, asseguradas as medidas necessárias para
garantir a sustentabilidade do setor das pescas a médio e a longo prazos, nomeadamente nos planos
ambiental, económico e social, e, sobretudo, pela desconsideração das especificidades da pequena pesca
costeira que continuam a não ser tidas em conta.
Mas, Sr. Deputado Ulisses Pereira, como sabe, o PCP apresentou no Parlamento Europeu um conjunto de
propostas que, infelizmente, não foram aceites e que muito melhorariam esta proposta que hoje aqui nos
trouxe para discussão. Nomeadamente, propostas que visavam uma maior descentralização da política
comum de pescas com a promoção de uma gestão de proximidade e com o envolvimento do setor das pescas
na definição da política comum, propostas que possibilitariam, ainda, por exemplo, aos Estados-membros a
adoção de medidas especiais de gestão e conservação para além das 12 milhas e das 100 até às 200 milhas,
no caso das regiões ultraperiféricas, que, como sabe, é uma matéria de grande interesse, em particular, para
Portugal, nomeadamente em função das regiões autónomas.
Sr. Deputado Ulisses Pereira, gostávamos ainda de ter ouvido, na sua declaração política, a identificação
de medidas concretas a assumir pelo Governo português para a garantia do desenvolvimento do setor
pesqueiro em Portugal,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — … mas, em relação a esta matéria, o Sr. Deputado preferiu o silêncio. Ainda
assim, com este pedido de esclarecimento, gostávamos de dar-lhe essa oportunidade.
Também gostávamos que o Sr. Deputado dissesse que medidas é que o Governo português vai adotar no
sentido da promoção e desenvolvimento da produção nacional e de apoio ao setor pesqueiro, nomeadamente
medidas que possam travar o abate da nossa frota pesqueira e que a possam reconstituir e garantir o
aproveitamento desse recurso natural que temos à nossa disposição e que nos coloca numa situação
preferencial em relação a outros países da União Europeia.
Gostávamos, igualmente, que dissesse que medidas é que o Governo português vai tomar para travar a
desregulamentação do mercado da pesca; que medidas é que o Governo português vai adotar para apoiar os
pescadores na comercialização do pescado; que medidas é que o Governo português vai adotar para apoiar
ou garantir o rendimento da atividade, nomeadamente medidas de ajustamento do regime da compensação
salarial; que medidas é que o Governo português está a ponderar para garantir o acesso aos combustíveis a
um preço adequado que deem, de facto, aos nossos pescadores a possibilidade de aproveitamento desse
recurso natural, sobretudo em condições mais vantajosas do que as de outros países da União Europeia.