5 DE JANEIRO DE 2013
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Cerimónia Comemorativa do 25 de Abril de 2009 e, cumprimentando a família aqui presente, saúdo também
os Capitães de Abril aqui presentes, mais uma vez, entre nós, quero dizer que esta era a cerimónia que
Marques Júnior considerava o ponto alto do ano parlamentar, porque só o 25 de Abril nos tinha restituído a
liberdade que nos permitia estar aqui nas nossas pluralidades de opinião, nas nossas tensões, nos nossos
consensos, consensos de que foi um dos mais ativos construtores como intérprete que sempre foi do primado
do interesse nacional.
A vida e o tempo não passaram por Marques Júnior. Foi Marques Júnior que passou pela vida e marcou o
seu tempo, o nosso tempo, um tempo de liberdade, com coragem, com determinação, enfrentando todos os
perigos e todos os riscos com uma enorme doação e com uma tocante generosidade, a generosidade com
que pautou a sua vida, uma relevante carreira militar e uma relevante carreira política, porque entendia ser o
seu dever cívico fazê-lo através da atividade política.
Gostaria, agora, de ler uma parte do seu discurso desse dia, em que ele exprime bem como foi o percurso
e como foi o resultado: ‘Até aqui chegar, a tranquilidade serena das ruas de Lisboa permitiu-me, por alguns
momentos, rever os factos do dia, desse dia, desde a véspera — o compromisso de honra, a distribuição das
missões, a incerteza do resultado, a receção das senhas; desde a noite — a ação essencial, a tomada das
posições-chave, a surpresa; desde o toque de alvorada — a formatura, as primeiras movimentações
exteriores, as resistências possíveis, o crescendo da manobra, a incerteza dos resultados, as intervenções
decisivas, as imagens simbólicas, o início da curiosidade e do apoio, a vitória sem ódio, a fraternidade, a
libertação, a paz e a esperança’.
É este o legado que nos cabe cumprir, o legado vivo que Marques Júnior nos deixa. Saibamos todas e
todos, cada uma e cada um de nós honrá-lo.
Sentidos pêsames à família, sentidos pêsames à Associação 25 de Abril.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Mendes Bota.
O Sr. Mendes Bota (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O PSD associa-se ao voto de pesar
e exprime as suas condolências à família do Coronel Marques Júnior, aos seus camaradas de armas, a todos
os seus amigos e a todos os que são seus colegas, antigos Deputados.
Se quisermos encontrar um sentido ético associado à política, penso que o perfil de António Marques
Júnior encaixa na sua perfeição e totalidade. A ética deriva do grego e tem muito a ver com caráter. A ética na
política é a política exercida com responsabilidade, com mérito e com competência. Já dizia Francisco Sá
Carneiro que a política sem risco é uma chatice e sem ética é uma vergonha.
António Marques Júnior esteve na política com ética, com responsabilidade, com mérito, com competência
e assumiu todos os riscos que a sua consciência de cidadão, com ou sem farda, lhe ditou.
Marques Júnior foi um exemplo de verticalidade e de probidade na política, foi um homem muito próximo
dos cidadãos, no qual os princípios se casaram com as convicções e as convicções se casaram sempre com o
bom senso.
Não vale a pena falar muito sobre o currículo, porque já está em tudo o que é sítio esse currículo imenso do
Coronel Marques Júnior, nem tão pouco do arsenal das suas qualidades — seria até, não direi fastidioso, mas
seria muito longo no espaço curto destas palavras estar aqui a citá-las. Mas há uma, de tantas que poderia
realçar — a coragem, a lealdade, a simplicidade, o homem de afetos, o patriota moderno —, que eu gostaria
de sublinhar: Marques Júnior foi um homem bom e foi um homem de bem.
Ironia das ironias, a sua última intervenção neste Plenário foi no dia 15 de janeiro de 2011, precisamente
para se associar ao voto de pesar pelo falecimento de outra grande referência do 25 de Abril, o Coronel Vítor
Alves.
Desapareceu agora mais uma dessas referências e um dos símbolos, como Salgueiro Maia, como Melo
Antunes, daqueles que arriscaram tudo — e é bom que as novas gerações saibam isto —, que arriscaram a
vida, as famílias, a profissão e o seu bem-estar para nos proporcionar a liberdade de que hoje disfrutamos.
E não foi apenas no 25 de Abril, porque também quando foi necessário sair à rua e dizer «não» a
totalitarismos de sinal contrário, Marques Júnior esteve lá, na linha da frente.
Diria, para terminar, que temos o dever de exprimir a Marques Júnior uma dívida eterna de gratidão pela
libertação de Abril, da qual somos todos beneficiários e de cujo edifício democrático o povo português é,