I SÉRIE — NÚMERO 37
34
conhecidas dessa forma, não podem deixar de granjear dos outros uma profunda admiração, uma profunda
estima.
Realço isso, porque, de facto, Marques Júnior era assim. Era de uma grande amabilidade — já aqui foi dito
—, era um homem bom, e essa sua componente era extraordinariamente realçada.
Queria também realçar a sua qualidade de Capitão de Abril e, portanto, do muito que deu ao País e às
gerações que se seguiram ao nível da conquista da liberdade.
À sua família, aqui presente, quero, em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, endereçar as nossas
mais sentidas condolências, também extensivas aos Capitães de Abril que aqui se encontram.
O País, sim, ficou mais pobre. As pessoas boas que desaparecem deixam o País mais empobrecido e,
obviamente, entristecido.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da
Igualdade.
A Sr.ª Secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade (Teresa Morais): — Sr.ª
Presidente, agradeço a sua permissão para que o Governo se associe ao voto de pesar que a Assembleia da
República apresenta pela morte de António Marques Júnior.
António Marques Júnior, democrata inteiro, homem de imensa dignidade, de honra e de palavra, Deputado
respeitado por todos os grupos parlamentares, amigo leal, prestou à sua Pátria, conceito que como militar
acarinhava e respeitava, relevantíssimos serviços na defesa da democracia, que, de forma determinante,
ajudou a construir.
Permita-me, Sr.ª Presidente, que deixe uma nota pessoal.
Convivi com ele como Deputada e como membro do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações
da República Portuguesa, pelo que pude aprender e beneficiar do seu saber, da sua sensatez e da sua
experiência.
Apesar de ainda ser muito novo, aconselhei-o algumas vezes a começar a escrever as suas memórias,
porque na memória de Marques Júnior reside rigor e detalhe sobre a verdade de Abril. Lamento muito se o
não tiver feito.
Morreu um homem justo. E como há de suceder aos justos, há de descansar em paz.
Em nome do Governo de Portugal e em meu nome pessoal, apresento à sua família, aqui presente, ao
Partido Socialista e a toda a Assembleia da República, que, como bem se disse, perdeu um dos seus
melhores, o meu sentido lamento.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, antes de procedermos à votação deste voto, quero também deixar
duas notas.
Encontrei pessoalmente, e pela última vez, o Capitão Marques Júnior na cerimónia da atribuição do Prémio
Direitos Humanos 2012. Falámos do exercício da política, e não posso deixar de revelar a todos que ele me
disse que o exercício da política traz sofrimento. Penso que posso transmitir a todos essa mensagem, bonita,
de Marques Júnior. E dizia-mo com o entusiasmo de, ao mesmo tempo, prosseguir nela.
Marques Júnior também lembrava o facto particular de ter sido Vice-Presidente da Assembleia da
República quando eu fui Deputada pela primeira vez e de ter sido ele que me deu a palavra pela primeira vez.
E porque mo repetia tantas vezes, é um sinal de ternura trazer aqui essa lembrança.
Marques Júnior foi uma ponte num mundo dividido, e isso trouxe-lhe a raridade que nós lhe reconhecemos.
Foi o exemplo de um despreendimento que é verdadeiramente a única chave de nos ligarmos ao mundo. E
porque deixou uma marca nele, uma marca de coragem e uma marca de solicitude, de certo modo adquiriu
uma vitória sobre a morte, como todos aqueles que se dedicam aos outros e que não se reservam à vida no
seu puro egoísmo.
É esse exemplo que eu também, pessoalmente, aqui quero lembrar, associando-me a todos, os que estão
cá dentro e os que estão lá fora, num verdadeiro sinal de homenagem à memória de alguém que, porque
deixou a marca, também venceu a morte.
Srs. Deputados, vamos agora votar o voto n.º 97/XII (2.ª) — De pesar pelo falecimento do Capitão de Abril
e ex-Deputado Marques Júnior, subscrito por todos os partidos.