I SÉRIE — NÚMERO 37
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simultaneamente, o inquilino e o proprietário, mesmo que ainda haja alguém que não reconheça que habita
nesse edifício.
Que nunca se esqueçam aqueles dias que mediaram entre o 25 de Abril e o 1.º de Maio de 1974, esse
espetáculo que, muitos dizem, só é comparável ao Armistício em França, de 1944. Indiscritíveis dias de
apoteose, em todo o País, muito concretamente em Lisboa, por essas avenidas acima até ao Estádio da
FNAT, fotografias irrepetíveis de massas humanas ainda sem partido, sem resquício de maldade, sem ligação
a interesses, como um enorme dique que rebentou para desaguar num mar de liberdade. E Marques Júnior,
um jovem tenente num movimento de capitães, foi uma peça-chave desse momento libertador.
António, lá em cima, em São Martinho de Bornes onde estás, que repouses em paz!
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Magalhães.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Falar de António Marques
Júnior em 2 minutos é uma tarefa impossível, tão rica foi a sua vida e intenso o legado que nos deixa.
Poderia, pois, falar de um militar distinto, poderia falar do dirigente político combativo, do Deputado
competente, do alto responsável da Administração Pública, atento e diligente numa área tão sensível como a
dos serviços de informação, ou até do cidadão atento e sempre pronto a intervir e a lutar pelo que considera
justo.
Mas permitam-me, Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, falar do homem com quem tive o privilégio e a honra
de trabalhar e de conviver durante seis anos e meio na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias.
Um homem bom, um radical — é uma palavra que raramente uso — defensor do pluralismo, do debate de
ideias, da diferença, da democracia, da Assembleia da República, dos poderes dos Deputados, e conseguiu
fazê-lo sempre com um sorriso amigo quase, para quem, como eu, bastante mais jovem, condescendente de
quem tem a tranquilidade e a sabedoria de, no fundo, entender e perceber que muito do que nos divide é
muito pouco perante muitas tarefas que temos à nossa frente.
Gostaria, pois, de lembrar António Marques Júnior quando na discordância, com certeza, mas na
concordância também, com certeza, tinha sempre tempo para ouvir os argumentos dos outros, ouvir em
silêncio, rebater, obviamente com combatividade, mas também com a tranquilidade de quem sabe que, muitas
vezes, todos nós aqui, como nas nossas vidas, perdemos demasiado tempo com aquilo que é acessório,
esquecendo o essencial.
O essencial que gostaria aqui de deixar, tal como é normal e hábito expressar nestas ocasiões, é que
Portugal perdeu um homem bom. Desta vez, faço-o com a exata noção e a exata consciência que hoje o
Parlamento, a democracia, o debate de ideias, o pluralismo, de facto, perdeu um radical defensor.
Queria, por isso, em meu nome, em nome do CDS e do Grupo Parlamentar do CDS, apresentar as
condolências ao Partido Socialista, as condolências à família, aos amigos, aos camaradas de armas e formular
um desejo: que este exemplo que descrevi perdure ao longo dos tempos.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados As minhas primeiras palavras são
para a esposa, para a filha, para a família de António Marques Júnior e, também, para os Capitães de Abril
aqui presentes.
O Bloco de Esquerda associa-se ao voto de pesar pela morte do coronel António Marques Júnior, e
fazemo-lo com muito sentimento e com muita convicção.
António Marques Júnior merece, sem qualquer dúvida, o reconhecimento desta Assembleia e o
reconhecimento de todos os portugueses e de todas as portuguesas. E merece esse reconhecimento não
apenas pelas suas reconhecidas qualidades pessoais, mas também pelos muitos méritos da sua prolongada
intervenção cívica, política e parlamentar.
Mas, neste momento, mais que o Coronel António Marques Júnior gostávamos de celebrar a vida do
Capitão António Marques Júnior, do Capitão de Abril Marques Júnior, como será para sempre conhecido e
reconhecido. Lembramos o homem corajoso que, como muitos outros, ousou defrontar, confrontar e derrotar o