I SÉRIE — NÚMERO 46
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Os Srs. Deputados sabem bem que um trabalhador, numa situação de grande fragilidade, contratado a
falsos recibos verdes, por exemplo, nos CTT, na ZON, na Vodafone, em todas essas empresas de
comunicação, não tem capacidade para ir a tribunal opor-se ao patrão, porque ele sabe que, a seguir, vai para
a rua. A lei não responde!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — O que é que eu disse? Não ouviu a minha intervenção?!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — A Autoridade para as Condições de Trabalho não tem competência para
criminalizar e deveria ter, e essa é a proposta que fazemos. Se a inspeção resolvesse tudo, não teríamos,
hoje, o número de precários que temos, a falsos recibos verdes e em empresas de trabalho temporário.
Os senhores assumam, aqui e agora, as vossas responsabilidades, retirem a máscara da hipocrisia
perante os representantes dos 40 000 cidadãos.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — É despudor completo!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Aprovem esta lei, hoje, sem mais, porque o que os senhores querem é
levá-la à especialidade para, depois, a desvirtuarem completamente, e sabem-no muito bem!
Nós assumimos a nossa responsabilidade. Queremos dar voz a uma geração que, como já disse, recusa
fazer da precariedade o seu modo de vida.
Os senhores hoje não tiveram a coragem de dizer o que já disseram em anteriores debates. Os senhores já
disseram que a precariedade dos jovens é culpa dos seus pais, que vivem à larga, instalados na opulência de
um contrato de trabalho. Hoje tiveram vergonha de repetir este argumento, fizeram-no de outra forma. Tiveram
vergonha, Sr.ª Deputada! Assuma exatamente o que pensa.
Portanto, hoje, trata-se de votar esta lei, se querem dar corpo àquilo que aqui disseram. Pela nossa parte,
assumiremos hoje, aqui e agora, as nossas responsabilidades.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Adão Silva.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, dirijo um cumprimento especial aos cidadãos
presentes, agradecendo, antes de mais, esta aprendizagem da democracia que fazemos em conjunto. A
democracia também se aprende e estamos disponíveis para aprender com todos vós. Temos a nossa palavra
a dizer, mas temos, sobretudo, as vossas palavras para escutar.
Em segundo lugar, gostaria de dizer à Sr.ª Deputada Mariana Aiveca que V. Ex.ª interveio numa espécie de
estado de desespero, porque listou uma série de argumentos que sabe que não são verdadeiros.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Ah, pois não!…
O Sr. Adão Silva (PSD): — O Grupo Parlamentar do PSD, conjuntamente com o do Partido Socialista e o
do CDS-PP, irá pedir a baixa à comissão, sem votação, deste projeto de lei dos cidadãos, não para iludir
ninguém nem para «lavar as mãos» mas, sim, para construir um documento que valha a pena, que seja capaz
de responder às ansiedades das pessoas e resolver questões com dignidade e com ponderação.
Vozes do BE: — Este não vale a pena?!
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Adão Silva (PSD): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que lamento a intervenção dos Srs.
Deputados do Partido Socialista, nomeadamente do Sr. Deputado Mário Ruivo. É preciso lembrar que a
legislação laboral mudou por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, as condições objetivas do
mercado de trabalho e da economia assim o obrigavam.