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I SÉRIE — NÚMERO 49

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O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, sei que estas questões

podem parecer um bocadinho confusas, mas, de facto, é assim. O Banco de Portugal também tem a mesma

estimativa.

Não existe, em todo o valor que já cortámos no passado, uma relação direta com o crescimento — direta

no sentido em que o Estado seja o único responsável pelo investimento em Portugal. Antes pelo contrário,

pretendemos que, para futuro, se libertem poupanças dos portugueses para investir no investimento da

economia.

O corte é no Estado, Sr.ª Deputada.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada Catarina Martins, tem a palavra.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, hoje os jornais económicos dão

conta de que os investidores privados vão investir menos e esse «menos investimento» deve-se ao facto de

haver menos procura interna. Portanto, a austeridade provoca recessão e o Sr. Primeiro-Ministro não

apresenta qualquer solução e vem falar-nos dos mercados, que correm tão bem. E se tudo corre tão bem, tão

bem, Sr. Primeiro-Ministro, como é que tudo corre tão mal?

Há um fado de António Zambujo que diz assim: «Cá para mim no meu conceito / se é tão tão e tem tem

tem / tem de ter algum defeito». E o seu defeito, Sr. Primeiro-Ministro, o defeito das suas políticas é a

realidade, é Portugal.

O PIB cai o dobro do previsto; o desemprego bateu hoje um novo recorde: mais 200 000 novos

desempregados só num ano, durante o seu Governo, Sr. Primeiro-Ministro. E o Tribunal Constitucional ainda

se vai pronunciar, não se esqueça! O Sr. Primeiro-Ministro poderá vir a ser o recordista das

inconstitucionalidades, com nenhum dos seus Orçamentos aprovado pelo Tribunal Constitucional — e eu

gostaria de saber se o Sr. Primeiro-Ministro vai atrever-se a dizer aos pensionistas que lhes vai cortar as

reformas de uma outra forma.

O Sr. Primeiro-Ministro está a preparar, à socapa, um corte de 4000 milhões de euros, que não é nenhuma

reforma do Estado; é, sim, o valor que precisa para tapar o défice das contas: 4000 milhões não é reforma do

Estado, é o valor preciso do buraco de Vítor Gaspar, e é esse que quer tapar!

Sr. Primeiro-Ministro, digo-lhe frente a frente: esta política de mercados não é a política das pessoas.

Portugal já não suporta a chantagem das Finanças. Não se aguenta!

Sr. Primeiro-Ministro, a austeridade e o desemprego são crimes, crimes contra as pessoas e crimes contra

a economia e a democracia.

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Para formular uma pergunta, pelo Grupo Parlamentar de Os Verdes, tem a palavra a

Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, a questão dos lucros do

BPI não é de somenos importância, fundamentalmente na situação que o País vive hoje. É que, ao mesmo

tempo que o BPI consegue um lucro de 250 milhões de euros, as falências das empresas aumentam em mais

de 40% e as falências das famílias portuguesas aumentam estrondosamente.

Ora, isto faz-nos pensar que, de facto, há aqui alguns que se safam no meio de toda esta crise. E

perguntamos: mas qual será o segredo? O segredo foi este: o Estado, que está em grande dificuldade, pega

em 1500 milhões de euros e disponibiliza-os ao BPI; a partir daí, o BPI sente-se em condições de entrar no

jogo de especulação e consegue, nada mais, nada menos, do que cerca de 160 milhões de euros — é

importante que os portugueses tenham consciência disto — por via do jogo de especulação com a dívida

portuguesa.