2 DE FEVEREIRO DE 2013
25
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Nuno Magalhães, quando há pouco disse que os
partidos da extrema-esquerda insistiam numa visão de ataque ao sistema financeiro, queria justamente
sublinhar o radicalismo que certas posições, em Portugal (que têm sido cristalizadas nestes partidos), mostram
e assustam os portugueses.
Precisamos de criar confiança dentro do sistema financeiro, quer em Portugal quer em termos globais, para
que as economias possam prosperar. Não se conhece, em nenhuma teoria económica, uma forma de
assegurar estabilidade e crescimento sem um pilar estável financeiro. Diria que sem esse pilar estaríamos,
provavelmente, na pré-história.
Estamos, portanto, em condições de dizer que é preciso pôr fim à impunidade com que certa demagogia é
feita, achando que é possível apontar o dedo indiscriminadamente à banca, aos poderosos, às grandes
empresas, como se isso representasse o mal da nossa economia. É preciso dizer que há, e sempre houve,
nas crises financeiras, irresponsabilidade dos próprios financeiros.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — É verdade!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Houve, há e continuará a haver uma necessidade grande de regulação
financeira, e nós temo-nos batido por ela. Houve e há necessidade de impor também custos especiais àqueles
que, com irresponsabilidade na área financeira, trouxeram para a área económica crises que teriam sido
dispensáveis.
Nós temos defendido, por exemplo, a introdução da taxa de transações financeiras como uma das formas
do próprio setor financeiro poder financiar uma parte das perdas que foram socializadas — é verdade, foram
socializadas — na Europa e no mundo dada a fraqueza da regulação e dada também a irresponsabilidade de
alguns financeiros. Mas não podemos confundir isso com a necessidade de atacar a banca, de descredibilizar
a banca e de pôr em causa o sistema financeiro. São duas coisas completamente diferentes e é esse
radicalismo que os portugueses rejeitam e com o qual vários partidos da extrema-esquerda não se
conformam.
Sr. Deputado Nuno Magalhães, há pouco a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia perguntava-me em que se
reflete na economia este início de regresso aos mercados e ao financiamento externo — e digo financiamento
externo porque, como sabem, nesta emissão a cinco anos mais de 90% da colocação foi tomada por
investidores externos, não foi por bancos portugueses. Até hoje, muitos bancos portugueses têm ajudado
patrioticamente as emissões que o Estado vem fazendo, mas justamente porque isso não chega e porque
precisamos de nos abrir aos mercados financeiros externos é de relevo notar que mais de 90% dessa emissão
foi tomada por investidores externos.
Ora, a pergunta que devia ser feita não é essa, porque todos temos vindo a assinalar — e os portugueses
já começaram a sentir — que há efeitos muito positivos, na perspetiva de que a economia possa dispensar,
para futuro, a tutela da troica e dos seus financiadores oficiais.
Por isso, queremos falar no tempo pós-troica que estamos a construir em Portugal, por isso estamos a falar
numa direção certa, que é a de cumprir a emergência para passar para um estádio diferente, qualitativamente
diferente, o de podermos trabalhar sobre o crescimento da economia sem as grandes restrições que nos são
impostas pelo Programa de Assistência Económica e Financeira.
A pergunta que devia ser feita não é a de «quais os benefícios que advêm», porque esses são muito
evidentes, mas, sim: qual seria o prejuízo causado a Portugal se esta emissão tivesse falhado? O que teria
acontecido em Portugal se este processo que agora iniciámos, de forma mais visível, de construir um percurso
de retorno ao financiamento em mercado tivesse malogrado as suas expetativas? O que é que teria
acontecido em Portugal?
Essa pergunta não foi feita, mas eu respondo, Sr. Deputado: o que teria acontecido é que, hoje, o
moderado otimismo que a maior parte das famílias e das empresas mostrou por saber que estávamos a