I SÉRIE — NÚMERO 64
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nacional, têm em vista adaptar a realidade ao novo paradigma de segurança e defesa de contexto europeu e
mundial. E não podem, em momento algum, ser interpretadas como uma tentativa de secundarização ou
menorização da instituição militar, nem como ofensa aos militares que, em todos os escalões e teatros, dão
provas de patriotismo, empenho e responsabilidade.
Sr.as
e Srs. Deputados, todos temos consciência, sentimos e lamentamos as dificuldades por que passam
os portugueses, porém a emergência financeira e económica em que fomos irresponsavelmente colocados a
todos convoca para encarar as restrições que nos impõem de forma determinada e corajosa.
No caso dos militares, exige-se uma redobrada compreensão na aceitação dos sacrifícios e um superior
empenhamento no cumprimento das suas missões, já que o que está em causa é a defesa da soberania e da
independência nacional, missão suprema das Forças Armadas, que constitui, aliás, o núcleo essencial do seu
juramento de bandeira.
Esta situação de emergência nacional tem ínsito um forte apelo ao patriotismo de todos os portugueses e,
em especial, daqueles que servem a Pátria no seio da Forças Armadas ou nas forças de segurança. Não está
em causa um patriotismo baseado na contemplação estéril de glórias passadas, mas feito de amor à Pátria, de
magnanimidade e devoção total à concretização dos grandes objetivos nacionais.
É esse mesmo patriotismo, associado a uma particular conceção do dever, que tem de ser posto na defesa
da imagem externa de Portugal e na assunção dos compromissos decorrentes das organizações e alianças de
que Portugal é parte.
A ação externa do Estado na área da defesa e segurança é um importante vetor da nossa política externa.
Devemos, pois, valorizar, no contexto internacional, a nossa posição geoestratégica, a nossa experiência e
conhecimento em relação a certas regiões do Globo, o falarmos uma língua viva e progressiva, veículo de
comunicação nos cinco continentes e o fazermos parte de uma Nação que tem comunidades de portugueses
dispersas pelo mundo todo.
Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, temos, assim, o dever patriótico de reconhecer que um Conceito
Estratégico de Defesa Nacional e os ajustamentos que se impõem na estruturação e reorganização do nosso
aparelho de defesa e segurança não podem deixar de ter em conta, por um lado, o ambiente atual e previsível
de segurança à escala europeia e planetária, e, por outro lado, as particulares circunstâncias que Portugal
enfrenta no contexto de grave crise económica e financeira que afeta o nosso País e também a União
Europeia.
Quanto ao ambiente de segurança à escala global, há que aceitar que estamos perante um novo
paradigma de atuação que decorre da configuração do novo quadro de ameaças, da evolução tecnológica e
da sofisticação dos equipamentos militares, da redução generalizada dos orçamentos de defesa,
nomeadamente nos países da OTAN, das novas soluções estratégicas, em termos de defesa inteligente, da
interoperabilidade dos meios e das capacidades de duplo uso, da nova abordagem das relações entre forças
militares e forças de segurança, do inevitável e necessário incremento dos serviços de inteligência e de
cibersegurança.
Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, a conjuntura de crise não deve, porém, afastar-nos do que é
essencial em matéria de defesa e segurança.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Correia de Jesus (PSD): — Vou terminar, Sr. Presidente.
O Estado não pode abdicar do núcleo essencial das suas instituições estruturantes, sob pena de se destruir
a si próprio, pondo em causa a liberdade, a democracia e a dignidade das pessoas. Daí que, seja qual for o
Conceito, devem salvaguardar-se os aspetos fundamentais de qualquer política de segurança e defesa,
nomeadamente a existência de Forças Armadas disciplinadas, coesas, equipadas e prontas para cumprirem
as suas missões inderrogáveis, de caráter militar e civil, interna e externamente; um estatuto da condição
militar que tenha em conta as especificidades da carreira dos que servem nas Forças Armadas; mecanismos
de cooperação entre as Forças Armadas e as forças de segurança; manutenção e defesa eficaz das reservas
estratégicas. Em suma, uma política que tenha em conta a totalidade do território nacional, incluindo a
previsível extensão da plataforma continental e que encare a Nação portuguesa no seu todo, de modo a