I SÉRIE — NÚMERO 85
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O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados, não contava inscrever-me de novo, mas,
de facto, o desfecho do debate motivou a minha inscrição.
Não se compreende, de forma alguma, como é possível que o debate tenha tido as características que
teve. Aliás, quem ouvisse o PS e o PSD e tanta simpatia que manifestaram pelos problemas dos bailarinos
profissionais (e até dos bailarinos da Companhia Nacional de Bailado), contava que tivessem trazido projetos a
este Parlamento e a este debate.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Tal não sucedeu. Tanta simpatia para nenhum projeto… Aliás, não só não
apresentam qualquer projeto como — pelo menos o PSD e o CDS, uma vez que não foi decifrável, para já, a
posição do Partido Socialista — não apontam para um desfecho favorável dos projetos apresentados pelo
PCP, pelo BE e por Os Verdes.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Srs. Deputados, este debate vem de há muito, e vem com particular
intensidade desde a lei dos contratos de trabalho, discutida em 2008, e da revisão dessa lei. Em todos esses
momentos, o PCP apresentou as diversas propostas que estão agora em cima da mesa, nomeadamente um
estatuto de reconversão profissional, questões concretas para dar resposta aos problemas dos bailarinos
profissionais da Companhia Nacional de Bailado e, em todos esses momentos, PS, PSD e CDS foram o
obstáculo e inviabilizaram a discussão.
Srs. Deputados, quando se apresentam soluções amplas, vastas, que resolvem todos os problemas,
argumentam que não pode ser porque não pode resolver-se tudo de uma vez; quando se apresenta um
diploma que incide sobre uma matéria específica, neste caso o seguro dos acidentes de trabalho, dizem que
não se pode resolver as coisas de forma avulsa!?
Estamos mesmo a ver que tanta desculpa deve ser mesmo para não resolver coisa nenhuma!
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma segunda intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada
Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, agora é que se ficou a
perceber muitíssimo bem o que a Comissão de Trabalhadores da Companhia Nacional de Bailado quer dizer
quando afirma que todos os grupos parlamentares dizem que este regime é urgente, é legítimo, é mais do que
justo, mas depois ninguém avança.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Este PSD e este CDS têm um descaramento!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes) — Nós avançámos, houve outros grupos parlamentares que
avançaram e os Srs. Deputados da maioria tremeram e pensaram: «O que é que nós vamos dizer agora que
alguém avançou?». Então, argumenta o PSD: «Este é um assunto de grande complexidade, necessita de uma
grande análise». Maior, Sr.ª Deputada? Maior do que a realidade, que é a profunda injustiça a que estes
bailarinos estão sujeitos?! E acrescenta: «Mas as propostas que apresentam são medidas avulsas, só
resolvem uma parte do problema». Tem razão, resolve uma parte do problema, Sr.ª Deputada — resolve, diz
bem. Há de convir, Sr.ª Deputada, que é melhor resolver passo a passo do que estar à espera do nada que
nunca mais aparece!
Por outro lado, a Sr.ª Deputada do CDS Inês Teotónio Pereira diz que vão apresentar um estatuto do
bailarino o quanto antes. Mas isso não é nada, Sr.ª Deputada. Preciso que nos diga o que é o «quanto antes»,
porque isso não é compromisso algum, é a continuação de um falatório que não leva rigorosamente a nada!