I SÉRIE — NÚMERO 87
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E, depois disto, o PSD e o CDS vêm propor que o Governo assuma, como orientação nacional, a promoção
do emprego!
Definitivamente não se percebe, não se compreende. Até acho que estamos perante a afirmação clara
daquilo a que poderíamos chamar a conversa franciscana do «olha para o que eu recomendo, mas não olhes
para o que eu faço»
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Catarina
Mendonça.
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça (PS): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Creio que no dia em que
celebramos o Dia da Europa, vale a pena este Parlamento fazer uma discussão séria em torno de três
questões essenciais.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Só se começar agora!
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça (PS): — Para os que acreditam no projeto europeu, Sr. Deputado
Bernardino Soares!
A primeira questão é esta: onde está a Europa, projeto de paz e solidariedade? Nestes dias, em que
assistimos a um aumento do desequilíbrio entre o Norte e o Sul, a uma ausência de um orçamento
verdadeiramente comunitário, às exigências de uma moeda única que tornam difícil a integração das
diferentes economias, ao inconsistente aprofundamento do mercado único, à afirmação de mecanismos
punitivos sobre os mecanismos da solidariedade e à afirmação da austeridade sobre o crescimento, a crise
está, de facto, a penalizar os mais fracos.
O Sr. Vitalino Canas (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Ana Catarina Mendonça (PS): — É neste quadro, Srs. Deputados, que o papel dos governos é
essencial e em que o Governo português tem falhado — as palavras não são minhas, a análise não é minha; a
análise é do Eurodeputado Paulo Rangel, que diz que está na altura de o Governo português ter uma política
europeia mais agressiva e, por isso, mais consentânea com os projetos de integração europeia.
Aplausos do PS.
A segunda questão, Srs. Deputados, é a de saber, neste quadro, onde está a credibilidade das instituições
europeias e também (façamos a reflexão) onde está a credibilidade do Governo português.
Falha, hoje, todos os dias. E falha porque há ausência de uma resposta consertada, articulada, no plano
europeu, que está a dar lugar a medidas avulsas e paliativas, a um papel de pouca decisão e, sobretudo, a
uma enorme desorientação das políticas públicas da União para responder a esta crise de tamanha gravidade.
E, Srs. Deputados do PSD e do CDS, nós agradecemos as recomendações que trazem, mas elas não vão
alterar em nada a vida dramática dos portugueses nos dias de hoje, elas não corresponderão a nada no plano
europeu, porque elas não dão resposta a um desenho efetivo que tem de ser feito, que é o de saber quais as
políticas públicas que, de facto, querem fazer para permitir dignidade aos cidadãos.
E com isto digo que, hoje, a Europa conhece pobreza e descrença. E entramos na terceira questão: está ou
não está a instituição democrática União Europeia em risco, nos dias de hoje? Diria que o desafio que hoje se
coloca aos parlamentos nacionais — e por isso o debate de hoje é importante — é o de terem um papel mais
ativo na trajetória da governação europeia.
A Europa nasceu para afirmar a liberdade e a dignidade dos indivíduos, a igualdade entre os Estados e a
civilização dos direitos — e é isto que, hoje, está a ser posto em causa. E não sou apenas eu ou a bancada do
Partido Socialista que o diz; a Sr.ª Presidente da Assembleia da República teve oportunidade de, no dia 21 do
mês passado, em Chipre, numa reunião com todos os parlamentos nacionais da União Europeia, chamar a
atenção para este problema.