I SÉRIE — NÚMERO 87
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O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe
Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Ouvindo a intervenção do PSD
e vendo o projeto de resolução que vai baixar, sem votação, à especialidade, ouvimos uma tentativa de dizer
que é por aqui o caminho para o crescimento, mas, infelizmente, não basta este caminho.
O que o PSD nos diz neste projeto de resolução, e diz-nos implicitamente, é que não há investimento
público — nem pensem em investimento público; quando muito, temos fundos comunitários. Quanto ao
essencial, que era ter uma visão para a economia que, com investimento público. pudesse fazer mexer e criar
emprego, não vemos nada disso.
Os resultados desta estratégia, ao longo dos últimos dois anos, são visíveis hoje, em Portugal e na Europa.
Na Europa, temos hoje 26 milhões de desempregados. Os resultados são inequívocos: as políticas que têm
sido seguidas não são aceitáveis e só nos últimos seis meses a austeridade e a recessão fizeram criar mais
um milhão de desempregados — só em seis meses!
Ora, o caminho da austeridade está a destruir a Europa. Instalou a recessão na periferia, mas está a fazer
com que a recessão cavalgue para o centro da Europa e o resultado está à vista nos números do desemprego.
A Europa fica para trás porque cedeu à austeridade, meteu na gaveta a solidariedade e não existe em nenhum
horizonte um vislumbre, sequer, de crescimento.
Quem vê na austeridade a saída, porque diz que esse é o único caminho para o rigor orçamental, não
percebe que é a austeridade está a destruir esse rigor orçamental.
Vejamos em Portugal: depois de toda a austeridade, não há rigor orçamental, o défice continua imparável e
na dívida pública ninguém tem mão.
Face a estes resultados, temos uma Europa que se destrói a si mesma naquilo que tinha de melhor, no seu
modelo social.
Falam-nos hoje de integração europeia e a pergunta que as pessoas fazem é onde está a integração
europeia nesta Europa.
Quando, em Portugal, nos dizem que temos de cortar na educação, onde ainda estamos aquém da média
europeia, quando temos de cortar nas pensões, onde ainda estamos aquém da média europeia, quando temos
de cortar na saúde, onde estamos aquém da média europeia, onde está a integração quando falam neste
caminho, quando é nele que vamos ficar mais longe da Europa do que estávamos quando este Governo
tomou posse?!
Neste caminho não há integração, há desintegração, e a austeridade mostra a sua realidade nestes
números do desemprego.
É de uma enorme hipocrisia (e eu meço bem as palavras que utilizo) esta Europa, que virou as costas às
pessoas, que se criou — e fazia questão disso — acima dos povos, não querendo saber deles, vir agora dizer
que tem, em 2013, o Ano Europeu dos Cidadãos. Só agora é que a Europa se lembrou dos cidadãos? Onde
estavam os cidadãos quando existiu o Tratado de Lisboa que a Europa não quis referendar? Onde estavam os
cidadãos quando as escolhas do tratado orçamental foram feitas de forma a não ter uma opinião sobre os
países, sobre as pessoas, sobre aquilo que os afeta? Onde estavam os cidadãos quando esta Europa, pedra
após pedra, foi construindo o seu modelo neoliberal, que foi contra eles construído, sabendo que, como era
contra os povos, não queria ter a voz das pessoas na sua construção?!
Agora que percebem que os europeus não veem saída na Europa, porque de lá não vem esperança mas
apenas austeridade, é que correm, depois da casa arrombada, para tentar colocar trancas à porta.
Infelizmente, parece que estão a chegar tarde demais, porque não corrigem o essencial.
Quando questionados sobre as saídas, ouvimos a palavra crescimento, mas depois o que constatamos na
política é austeridade. Onde está o crescimento? Onde é possível o crescimento com este tratado orçamental?
Onde é possível o crescimento quando nos dizem que é com este tratado orçamental que teremos ainda mais
recessão e ainda mais desemprego?
Se é a Europa que traz a recessão, se é a Europa que diz que a austeridade é o caminho, percebemos
que, depois de a Europa ter virado as costas aos cidadãos, são agora os cidadãos que dizem que não querem
mais esta Europa.