I SÉRIE — NÚMERO 100
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ache que não lhe fizeram justiça —, devo dizer que a criatividade que hoje aqui demonstra deita por terra essa
ideia.
Dizer-nos que requalificar, nas palavras do Governo, nada tem a ver com despedimentos é nem sequer
colocar aquela que é a retórica da maioria. Então, não há mútuo acordo?! Se bem que seja o Governo o único
que está de acordo, porque são 30 000, pelo menos, os que vai despedir! Então, não há a ideia de que quer
cortar no número de funcionários?! Ou estes cortes também são poupanças na novilíngua que o Governo quer
trazer para o País? Há a necessidade de falar claro.
Desde logo, quem falhou foi o Governo, quem falhou foi a austeridade, e continuar na austeridade só trará
mais falhanços.
O desafio que lhe deixo é o de assumir aqui, hoje, o que é que vai cortar em cada um dos ministérios e
quantos funcionários públicos vai cortar, porque requalificar é ter funcionários públicos a ganhar menos do que
ganhavam se estivessem a receber subsídio de desemprego, é ter a certeza de que vão ser empurrados para
uma situação em que a escolha é entre o desespero de ganhar 50% do seu salário ou, até ao final do ano, não
ganhar salário e ir para o desemprego. Não há mútuo acordo, Sr. Ministro, mas, sim, a força de um Governo
que aposta no desespero dos funcionários públicos para os atirar porta fora!
Ora, isso não é requalificar, isso é uma política de terror sobre os funcionários públicos. O que lhe peço —
é uma exigência da democracia — é que tenha a transparência, a honra, a clareza de dizer quais os sectores,
quantos professores, quantos enfermeiros, quantas pessoas serão afetadas por esta política.
De uma vez por todas, percebemos que, afinal, para o Governo, o desemprego não é um problema, porque
se fosse não teria esta política que o irá agravar.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder aos quatro pedidos de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Ministro
de Estado e das Finanças.
O Sr. Ministro de Estado e das Finanças: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada e Srs. Deputados, as
perguntas que me colocaram são efetivamente importantes.
A questão colocada inicialmente pela Sr.ª Deputada Cecília Meireles liga bem, julgo eu, com o comentário
final do Deputado Pedro Filipe Soares. A Deputada Cecília Meireles perguntou quais as consequências
associadas ao não cumprimento dos nossos compromissos externos.
Naturalmente, um país que está sob assistência financeira oficial, no caso de não cumprir os seus
compromissos, de não ser capaz de gerar e de gerir uma relação de confiança e credibilidade junto dos
credores, arrisca perturbações financeiras e perturbações de pagamentos.
Sabemos o que a iminência da cessação de pagamentos significa em Portugal, experimentámo-lo no 1.º
semestre de 2011; sabemos o que a iminência de cessação de pagamentos significa na Grécia, que teve
episódios repetidos deste tipo; sabemos o que significa a iminência da cessação de pagamentos em Chipre,
no episódio mais recente de todos. Julgo que não há qualquer espécie de dúvidas nesta matéria.
Portanto, Sr. Deputado Pedro Filipe Soares, este Orçamento retificativo existe para garantir o cumprimento
dos limites orçamentais de 2013, existe para permitir o cumprimento do Programa de Ajustamento. A palavra
«culpa» foi usada apenas por si e, consequentemente, a explicação dessa questão cabe-lhe a si.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Ministro de Estado e das Finanças: — Eu não usei, nem uso, a palavra «culpa» associada com
Orçamento retificativo.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Deputada Cecília Meireles coloca a questão de que é necessário cumprir, é inquestionável cumprir o
acórdão do Tribunal Constitucional. E o Orçamento retificativo visa precisamente, entre outras coisas,
assegurar esse cumprimento. Tem toda a razão a Sr.ª Deputada.