I SÉRIE — NÚMERO 100
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Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro de Estado e das Finanças, errar é
humano, é verdade. E, portanto, tolerável. Mas não aprender com os erros é muito pouco sensato.
A verdade é que andamos, há dois anos, a levar com os erros sucessivamente cometidos pelo Governo
relativamente às suas previsões macroeconómicas; andamos, há dois anos, a levar com os efeitos recessivos
das opções que o Governo tem tomado; andamos, há dois anos, a assistir ao aumento galopante do
desemprego, à degradação do nível de vida das famílias e ao aumento da pobreza e da exclusão social;
andamos, há dois anos, a levar com sacríficos, com cortes nos salários e nas pensões, com cortes nas
prestações sociais, com uma carga fiscal insustentável e, ainda por cima, continuamos a ver a dívida pública a
aumentar e a recessão a agravar-se.
Sr. Ministro, há aqui alguma coisa que não bate certo, há aqui alguma coisa que está a falhar; ou antes,
está a falhar tudo, porque o Governo não acerta uma!
Falando de previsões, onde o Governo é mestre, como, aliás, se tem visto, e falando em bom senso, coisa
que pelos vistos escasseia na bancada do Governo, debrucemo-nos sobre esta passagem.
O Governo apresentou o Documento de Estratégia Orçamental assente num determinado cenário
macroeconómico; depois, apresentou o Orçamento retificativo. Entre um e outro documento, vieram as
previsões da OCDE, que claramente nos dizem que Portugal não vai atingir as metas do défice em 2013 nem
em 2014. A OCDE espera que a nossa economia tenha uma recessão mais profunda este ano e que, em
2014, cresça menos do que aquilo que o Governo está à espera.
Sr. Ministro, depois destas previsões, não acha que teria sido sensato rever o cenário macroeconómico no
qual assenta este Orçamento retificativo? Gostaria que se pronunciasse sobre esta matéria.
Por outro lado, Sr. Ministro, o Governo andou a dizer ao mundo que com o Orçamento retificativo iria
poupar com juros. Para ser mais exato, o Governo anunciou uma poupança com juros, no Orçamento
retificativo, de 335 milhões de euros relativamente ao Orçamento do Estado. Mas, afinal, a despesa total com
estes encargos, em vez de diminuir os tais 335 milhões de euros anunciados pelo Governo, vai aumentar 289
milhões de euros. Sr. Ministro, estamos a falar de 624 milhões de euros de diferença!
O que é que justifica este erro? O que é que justifica tamanha discrepância entre os valores que foram
anunciados pelo Governo e aqueles que constam agora do Orçamento retificativo?
Vozes do PCP: — Muito bem!
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Cristóvão Crespo, do
PSD.
O Sr. Cristóvão Crespo (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro de Estado e das Finanças, os debates
decorridos na presente Legislatura têm sido marcados pela expressão de terminologia das finanças até à
exaustão, tanto pelos partidos que apoiam o Governo como pelos partidos da oposição.
O trabalho na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública tem sido substancialmente
superior ao de todas as restantes Comissões e os portugueses têm sentido nas suas vidas a tradução prática
desta intensa atividade na área das finanças, desde o início desta Legislatura, e esse impacto não tem sido
simpático para os portugueses.
Todavia, não cabe ao atual Governo e aos partidos que o apoiam essa responsabilidade de as finanças
estarem na linha da frente na vida dos portugueses — todos sabemos que não, Srs. Deputados. Tal só
acontece porque o País perdeu a independência, porque o País ficou amarrado à incompetência de quem nos
governou até há poucos anos.
Todos nos lembramos das palavras do Dr. Teixeira dos Santos, antecessor do Sr. Ministro: «Quem vier a
seguir nem tempo terá para se sentar» — foi a expressão utilizada.