I SÉRIE — NÚMERO 100
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As previsões económicas foram, logo na altura, consideradas irrealistas pelo Conselho Económico e Social,
pela UTAO, pela Universidade Católica, pelo Banco de Portugal e pela generalidade dos analistas não
subordinados à disciplina partidária ou à hierarquia administrativa do Governo — 1% de recessão era algo por
todos considerado irrealista.
O grave problema que o Orçamento retificativo comprova não é nem a degradação da situação
macroeconómica nem sequer o dito «incómodo constitucional».
É que perdemos seis meses preciosos devido à sobranceria de um Governo que se comporta face à
economia como um fundamentalista religioso e face ao direito como um marginal.
Aplausos do PS.
O Documento de Estratégia Orçamental conseguiu uma insólita unanimidade de opiniões sobre a sua
inutilidade estratégica e sobre o seu contributo para o aprofundamento da depressão.
Como diz o insuspeito Conselho das Finanças Públicas, este documento nada tem a ver com a Estratégia
para o Crescimento, Emprego e Fomento Industrial 2013-2020, apresentada pelo Governo, em nada a reflete.
Ou estamos a falar de dois Governos ou esse programa é mais um inconsequente poema visionário como
aqueles que o Ministro Álvaro Santos Pereira repetidamente usa para fazer prova de vida política.
O Conselho das Finanças Públicas diz mesmo que não é possível, face a este documento, identificar as
medidas com base nas quais ele será adotado.
Mas o que aqui se prova é que este Governo fracassado já desistiu do País, porque aquilo que nos diz é
que, em 2017, o desemprego será de 17%, a dívida pública superior à de 2013 e a carga fiscal maior do que
aquela que temos agora. Isto é, o que o Governo propõe para o futuro é mais impostos, mais dívida e mais
desemprego do que aqueles que existiam quando, há dois anos, chegou ao poder.
Aplausos do PS.
Mas se «os amanhãs que cantam» são sombrios, o que temos hoje aqui é uma confissão de impotência e
uma mistificação mal escondida usando o Tribunal Constitucional como álibi.
O Orçamento retificativo reconhece o desvio colossal da execução orçamental da primeira metade de 2013.
A dimensão da recessão será, segundo a OCDE, quase o triplo do que o Governo anunciava há seis meses:
2,7% e não 1%. As medidas de crescimento da receita estão reduzidas a quase metade. A grande razão deste
Orçamento retificativo é a perda de receitas fiscais, já assumida, de 1600 milhões de euros, fruto da recessão
e o aumento da despesa com subsídios de desemprego e com prestações sociais em 500 milhões, fruto da
recessão e da estratégia errada do Governo.
A marca que celebrou os dois anos da vitória eleitoral de Passos Coelho foi a confirmação de uma
recessão de 4% — o pior resultado de sempre —, após nove trimestres, sempre, sempre, de queda da riqueza
nacional.
Aplausos do PS.
O Governo não pode sair daqui sem dizer quanto é que vão custar as medidas estruturais que promete.
Isto é, quantos desempregados vão existir, fruto dos despedimentos na função pública e do aumento do
horário de trabalho, aprovados ontem, pela calada da noite — porque essas é que são as medidas estruturais
deste Orçamento.
Aplausos do PS.
O Ministro Vítor Gaspar não pode fugir a ir à Comissão de Finanças explicar o que não respondeu aqui:
como é que manipula o deflator, como é que martela dados, como é que faz aqui mais um exercício
inconsequente?
Este Orçamento prova que, se estamos pior do que há dois anos, os primeiros seis meses foram
dramaticamente perdidos.