11 DE JULHO DE 2013
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dizer-lhes que, dos 100 que nos emprestaram, já só vão receber 70 ou 80 (…) se mantivermos os níveis atuais
de dívida, dificilmente conseguiremos crescer a níveis aceitáveis (…) e se não crescermos morremos».
Ora, se a dívida aumenta e se o FMI antecipa mesmo a possibilidade de chegar aos 140%, as conclusões
não podem, hoje, ser diferentes.
A dívida tritura os recursos disponíveis: até 2020, exigirá de Portugal o pagamento de 103,3 mil milhões de
euros, além de 68 000 milhões de euros em juros, e os juros representam já, em percentagem do PIB, mais do
que Portugal gastou com a educação no ano de 2013.
Os custos da austeridade são hoje evidências, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, não são matéria de
opinião. A quebra brutal na procura interna, a quebra no investimento privado, a maior dos últimos 50 anos, o
investimento público, que não apresentava níveis tão baixos desde 1977 — vejam bem! —, a recessão
prevista pela OCDE, para este ano, de -2,7%, o recuo da economia, em 4%, no 1.º trimestre, segundo o INE,
eis os dados do abismo económico e social criado pela austeridade. E o Governo não teve nem tem outra
estratégia que não seja a do ataque aos salários e pensões e a da destruição de emprego.
Nos dois anos deste Governo, a economia portuguesa destruiu cerca de 10 000 milhões de euros e gerou
mais 400 000 desempregados. O défice atinge, hoje, os 10,6% e, só em 2011, foram à falência mais de 6600
empresas.
Depois de todos os sacrifícios, estamos pior, cada vez pior, e a cada promessa de fim de sacrifícios a única
garantia que temos é a de que vem aí um novo pacote de austeridade. E o pesadelo da dívida é o
argumentário do poder, é o argumentário do assalto aos salários e às pensões. Esta tem sido a resposta do
Governo e mata qualquer possibilidade de crescimento. E não foi por não a seguirem com afinco e toda a
devoção que as metas não foram caindo, uma a uma, num fracasso total, em cada previsão.
Vítor Gaspar deixou-o escrito: fracasso das suas políticas, fracasso da sua folha de Excel, fracasso deste
Governo, ao qual apontou, aliás, como bem vimos, bem escrito, falta de coesão e falta de liderança.
A crise política desta semana foi, assim, a cara do fracasso da austeridade e das políticas deste Governo,
partido em cacos como um jarrão de porcelana. Os cacos não têm, hoje, qualquer restauro possível. A cola
não aguentará qualquer possibilidade de restauro deste Governo.
Ministros como Vítor Gaspar e Paulo Portas lançaram as bombas e quiseram fugir dos estilhaços. O
primeiro conseguiu, deixou a herdeira, como bem sabemos; Paulo Portas parece ter sido apanhado na sua
própria ratoeira.
À primeira vista, o papel do CDS no Governo será o de governar o próprio PSD. Paulo Portas sai como
uma espécie de «Bimby-governante» nesta solução de restauro. Não há nada, afinal, que não possa cozinhar.
Cozinhará na economia, nos negócios estrangeiros, como Vice-Primeiro-Ministro. Trocou uns amigos por
Maria Luís Albuquerque. E se, antes de ontem, Paulo Portas saiu por causa da Ministra das Finanças, dois
dias depois, ela já veio garantir que, afinal, e estou a citá-la, vão «trabalhar lado a lado, no mesmo sentido».
Eis o preço do irrevogável apego de Paulo Portas e do CDS ao poder.
Mas quantas intriguices palacianas serão ainda necessárias para decidir, por exemplo, quem manda nas
finanças? Quantas intriguices para saber quem mandará no QREN? Será Paulo Portas ou Poiares Maduro? E
na diplomacia económica? Será Paulo Portas ou o futuro ministro?
A coligação está tão, tão agarrada ao poder que sofre de autofagia. Menos mal, se a comédia destes
governantes não fosse a tragédia deste País.
Aplausos do BE.
E desenganem-se: nem o cântico da libertação da tutela estrangeira no próximo ano vos salva. O segundo
resgate está a ser negociado nas costas dos portugueses, ele é o «elefante escondido com rabo de fora».
Todos sabem que está a ser preparado, todos sabem que está a ser negociado, mas fingem que está tudo a
correr às mil maravilhas.
Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, garantiu aqui, no Parlamento, que Portugal precisará de
um programa cautelar. Vítor Gaspar fez o mesmo. Seja mais suave ou menos suave, mais light ou menos
light, vem aí o segundo resgate. Podem dar-lhe o nome que quiserem, até lhe podem chamar, se quiserem,
«Maria Albertina», mas um empréstimo com condicionalismo político, vulgo processo de ajustamento via
austeridade, é um resgate que implica a limitação da nossa soberania.