I SÉRIE — NÚMERO 111
4
Não há recuperação da soberania política com segundo resgate, só há recuperação da soberania com
crescimento económico, com criação de emprego, com recuperação do poder de compra das famílias e dos
direitos que já lhes foram sacados. Só há soberania com a recuperação da economia e com a renegociação
da dívida.
É por isso que hoje aqui apresentamos uma iniciativa legislativa, porque entendemos que é urgente
renegociar a dívida com credores privados e oficiais, no sentido de cortar 50% do montante da dívida pública,
emitindo obrigações do tesouro com prazo de pagamento a 30 anos e período de carência até 2020; cortar na
totalidade do pagamento de juros do empréstimo internacional; limitar os juros da dívida ao valor das
exportações de bens e serviços, porque, afinal, o que serviu para a Alemanha do pós-guerra só pode servir
também para nós. E hoje é o dia, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, em que podem decidir o caminho de
sustentabilidade da dívida.
Só há soberania se o Estado social, já hoje tão debilitado, não for desconfigurado de forma irreversível e se
a palavra for devolvida ao povo, através de eleições, como tem de ser. Mas o Presidente da República desistiu
dela, da soberania e da palavra do povo. A direita tem medo, a banca não quer, enerva-se e faz telefonemas,
Durão Barroso e Merkel também não querem, o Presidente do Eurogrupo exultou com a estabilidade política.
Cavaco Silva só tinha mesmo de lhes dizer que sim.
Com um segundo resgate a caminho, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados, como é que ainda há alguém que
ache que este Governo tem remendo ou que a cola da restauração vale alguma coisa?
Nós, pela nossa parte, não desistimos. Não desistimos de recuperar as nossas vidas e de resgatar o futuro
de Portugal. Ou vencemos a chantagem da dívida ou somos vencidos por ela. A decisão está nas mãos desta
Assembleia e está, evidentemente, nas mãos de um povo que não desiste de lutar pela dignidade e pela
devolução de tudo o que já lhe foi roubado. E nós não vamos deixar que este caminho de destruição continue.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Sr.ª Deputada, a Mesa regista a inscrição de três Srs. Deputados para fazer
perguntas, a saber, Miguel Frasquilho, do PSD, Honório Novo, do PCP, e Pedro Jesus Marques, PS. Não sei
como a Sr.ª Deputada pretende responder…
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Responderei individualmente, Sr.ª Presidente.
A Sr.ª Presidente: — Muito obrigada, Sr.ª Deputada.
Assim sendo, tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Miguel Frasquilho.
O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, percebemos hoje, como
já tínhamos percebido na semana passada, que, nesta matéria essencial para o futuro do País e para a vida
dos portugueses, o Bloco só está interessado na chicana política, numa instabilidade e numa propaganda
alarmista. Nós achamos que o Bloco devia era estar preocupado com as propostas irresponsáveis que
defende em termos de dívida pública e com os efeitos terríveis que essas propostas teriam na vida dos
portugueses.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Dizem os senhores que são adeptos de uma reestruturação da dívida
pública e que defendem também eleições antecipadas. Na prática, o que isto significa é que os senhores são
adeptos de um segundo resgate a Portugal.
Vozes do PSD: — Bem lembrado!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Isso é a maioria!