1 DE NOVEMBRO DE 2013
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os nossos problemas. A técnica do esquecimento é a receita para, no futuro, enfrentarmos dificuldades ainda
maiores e, porventura, irremediáveis, é a receita para novos colapsos que não se fariam esperar.
Agora olhamos para o futuro, mas não sem aprender as lições do passado. Quem obstinadamente se
recusa a aprender com os erros do passado está condenado a repeti-los. E os portugueses,
independentemente das suas preferências partidárias, não querem repetir o colapso do passado.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — É importante sublinhar que, sem este Orçamento do Estado, o País não teria
esta possibilidade de recuperar a sua autonomia, de estabilizar a sua economia, de regressar ao
financiamento, em condições normais de mercado, nem para as suas empresas, nem para as suas famílias,
nem para o Estado.
Sem este Orçamento o País não teria, com certeza, nem a oportunidade de contemplar a saída do
Programa de Assistência no calendário inicialmente previsto, nem de alargar o seu campo de escolhas nas
suas políticas públicas que os próximos anos trarão.
Em grande medida, nos seus objetivos e em algumas das suas áreas mais sensíveis de atuação, a
proposta de Orçamento do Estado para 2014 resulta de uma árdua e longa negociação com os nossos
parceiros europeus. Desse ponto de vista, trata-se também da resposta afirmativa e consequente à escolha
nacional na manutenção do País como Estado-membro de pleno direito na área do euro e na dianteira do
projeto europeu.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Como escolha democrática que é, vincula, naturalmente, todo o nosso sistema
político-constitucional e exige de todos os agentes a respetiva resposta consequente.
Quem quer o objetivo quer, necessariamente, também, os meios indispensáveis para a consecução desses
objetivos. Por isso, a dimensão europeia desta proposta de Orçamento do Estado não pode ser ignorada. Pelo
contrário, tem de ser enfaticamente realçada.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não podemos, porém, ficar à espera que a Europa, num futuro mais ou menos
distante, venha resolver os problemas por nós. Não temos esse tempo, porque não temos tempo a perder.
Nesta ocasião é preciso esclarecer os portugueses quanto aos horizontes imaginários de redenção que,
por vezes, aparecem no debate público. Importa clarificar que a desistência de procurarmos as nossas
próprias soluções para os problemas, com a falsa contrapartida de que alguém na Europa irá fazer o essencial
por nós, não é apenas uma confissão de falência dessa suposta alternativa política, não é apenas um modo de
implicitamente se reconhecer que nada se tem a dizer de substantivo sobre a estratégia nacional de
recuperação do País. Afinal de contas, não é isso equivalente a dizer: se a Europa não vier cuidar de nós,
resta-nos cruzar os braços e aguardar pelo pior?
Avançar estes cenários de redenção como solução mágica e indolor para os desafios que temos pela frente
é também uma ilusão enganadora. Ainda que avancemos rapidamente no processo de aprofundamento da
união política e orçamental, admitindo até a criação de um tesouro europeu com capacidade de emissão
obrigacionista, é um erro e uma ilusão supor que daí decorreria uma pura e incondicional margem para
financiar a nossa despesa e a dívida.
É um erro e uma ilusão supor que a centralização orçamental não limitaria ainda mais rigorosamente a
nossa liberdade de escolha nas nossas próprias políticas públicas e no modo como afetamos a despesa
pública.
É um erro e uma ilusão ignorar que perderíamos mais capacidade de decisão nacional ou que a margem
de atuação dos nossos órgãos de soberania seria consideravelmente reduzida. Devemos caminhar para uma
reforma institucional que robusteça a zona euro e que facilite a coordenação entre o Banco Central Europeu e
as instâncias comunitárias. Mas mesmo essa coordenação aprofundada — que é inteiramente desejável para