I SÉRIE — NÚMERO 29
16
Sr.ª Deputada, não tenho aqui, no Parlamento, uma coisa diferente para dizer do que aquilo que disse
ontem ao País, por intermédio da comunicação social. A minha conversa não muda da residência oficial para
aqui, para o Palácio de São Bento.
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
Estranhei as declarações da Sr.ª Diretora-Geral do FMI e estranhei, porque nós vimos defendendo, há
muito tempo, nas nossas negociações com a troica, que os erros de partida do Programa pudessem ser
corrigidos no que podem ser corrigidos.
Todavia, há uma matéria em que eles não podem ser corrigidos — já aqui o afirmei. Nós defendemos que o
processo de ajustamento pudesse ter tido lugar durante quatro anos, mas isso não foi possível.
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
Parece que o anterior Governo nem sequer suscitou a questão.
Protestos do Deputado do PS João Galamba.
A questão ficou, pois, resolvida assim: o Programa de Ajustamento tinha três anos e se tivesse de ter mais
de três anos, depois de ter sido fechado, teria de ser um segundo programa, que é coisa que eu não quero em
Portugal.
Portanto, Sr.ª Deputada, estando nós a defender há dois anos correções ao Programa de ajustamento no
que respeita às metas orçamentais, lamentei que aquelas que fossem feitas não tivessem sido tão amplas
quanto o que desejaríamos que tivesse acontecido.
E se a Sr.ª Diretora-Geral do FMI concorda que, realmente, houve esses erros de partida, então o FMI
deveria ter sido consistente e coerente e ter vindo ao encontro das pretensões do Governo português que, nas
negociações com a troica, defendeu um ajustamento mais pronunciado dessas metas.
O Sr. ex-Ministro Vítor Gaspar disse um dia, a propósito de declarações idênticas da Sr.ª Lagarde, que
havia uma certa hipocrisia institucional nestas instituições e eu não posso deixar de dizer que o Sr. Prof. Vítor
Gaspar estava cheio de razão.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, repare que quem se senta com ar
subserviente perante as instituições da hipocrisia institucional é a maioria PSD/CDS, é o seu Governo.
Repare como talvez a hipocrisia institucional esteja também na cabeça de todos os portugueses quando
ouvem um Governo que baixa salários, mas diz que não quer, que é a troica que obriga, ou quando ouvem um
Governo que diz que queria a troica e que afinal agora já não queria, ou quando ouvem um Governo que
assinou o Memorando e diz que agora, afinal, já não sabia de nada.
Hipocrisia institucional é o que os portugueses ouvem todos os dias do seu Governo quando, por exemplo,
o ouvem a dizer que o País está melhor e olham para as suas vidas, olham à sua volta e perguntam se o
desemprego, se a quebra de salários, se a quebra de pensões, se o desespero é só nas suas vidas, porque
afinal o País vai tão bem, não vai, Sr. Primeiro-Ministro?!
Mas a verdade não é essa. A verdade é, quando comparamos os dados de 2012 para 2013, verificamos
que continuamos a empobrecer, que o desemprego continua a aumentar…
Vozes do CDS-PP: — Oh!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … e que a dívida pública não para de crescer.