3 DE ABRIL DE 2014
9
entidade recetora, passando todos os outros procedimentos, o Governo imponha a transferência da
universalidade a favor da mesma. É o que diz a proposta de lei.
O Governo não pode afetar responsabilidades, serviços, trabalhadores e património a uma autarquia
coercivamente.
O Governo não esquece uma questão que há anos tem suscitado muito interesse pelo seu elevado valor,
que é o património, arrogando-se no direito de chamar a si as competências próprias das assembleias
distritais e dos seus presidentes para dispor do seu património. Esta é já uma velha pretensão que permanecia
insatisfeita, aproveitando agora esta oportunidade para, de uma vez, o Estado se tornar o proprietário desse
mesmo património.
Podemos perguntar qual o interesse que está por detrás desta pretensão, que, inclusivamente, já motivou
normas ao nível do Orçamento de Estado. O exemplo da Assembleia Distrital de Lisboa é bem evidente, pois
esta Assembleia detém inúmeros edifícios no centro da cidade de Lisboa, quase duas centenas de hectares
de terrenos rústicos e urbanos e de quintas seculares nos concelhos da Amadora, Odivelas e Loures. Quando
afirmamos que é bem apetecível este património está-se bem a ver para quê.
Determinando procedimentos impraticáveis e violadores da boa-fé, sobretudo quando estão em causa
valores patrimoniais e sociais e os interesses legítimos dos trabalhadores, o prazo de 120 dias é
manifestamente insuficiente para preparar a deliberação da assembleia distrital e para a entidade recetora
assumir a dita «universalidade» e adequar os instrumentos de gestão a essa realidade.
Não se pode ignorar que os orçamentos municipais, os planos de atividades e o mapa de pessoal para
2014 estão aprovados e há transferências de pessoal, de serviços e de património que têm impactos
significativos e exigem alterações ao nível dos instrumentos de gestão. Há ainda que ter em conta que não
está prevista nenhuma exceção à redução de trabalhadores nas autarquias imposta pelo Governo no
Orçamento de Estado. Apesar de o Secretário de Estado ter referido que essa exceção seria justa, não
respondeu ao PCP quando lhe perguntámos porque é que não contemplou essa mesma exceção.
Por último, os direitos dos trabalhadores das assembleias distritais não estão devidamente acautelados,
designadamente a manutenção do seu vínculo jurídico-laboral e estatuto jurídico, nas normas referentes à
transição de pessoal. A verdade é que estas referências não vêm nas normas que dizem respeito à transição
de pessoal, nem a salvaguarda dos postos de trabalho dos trabalhadores com contratos a termo certo. De
acordo com a proposta do Governo, nada impede que estes trabalhadores possam ir para a mobilidade.
Sr.a Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, a proposta do Governo também não clarifica a
resolução de um problema concreto com o qual os trabalhadores hoje se confrontam, designadamente a
existência de salários em atraso há oito meses. Aliás, o Sr. Secretário de Estado, na resposta que deu aos
grupos parlamentares, referiu, inclusivamente, que era desejável que esse problema fosse resolvido antes da
transferência, o que revela que, efetivamente, não está contemplado para o futuro.
É exatamente sobre esta questão concreta que o PCP intervém. O projeto de resolução que trazemos à
discussão recomenda ao Governo a reafectação de verbas inscritas na dotação provisional do orçamento do
Ministério das Finanças para as assembleias distritais, de modo a garantir o seu bom funcionamento e a
manutenção da sua atividade e serviços.
Temos recorrentemente apresentado esta proposta e, caso ela tivesse sido aprovada, os constrangimentos
que hoje existem teriam sido evitados. Na verdade, a proposta do Governo não garante a resolução do
pagamento dos salários em atraso.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, estão já inscritos para intervir os Srs. Deputados Emília Santos, do
PSD, Jorge Gonçalves, do PS, Luís Fazenda, do BE, João Gonçalves Pereira, do CDS-PP e José Luís
Ferreira de Os Verdes.
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Emília Santos.
A Sr.ª Emília Santos (PSD): — Sr.a Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.
as e Srs. Deputados: O
Governo apresenta-nos hoje para discussão uma proposta de lei que visa aprovar o novo regime jurídico das