22 DE AGOSTO DE 2014
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O Sr. António Braga (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, Sr.as
e Srs.
Deputados: Em primeiro lugar, gostaríamos de sublinhar que, neste contexto, a questão procedimental é, para
nós, irrelevante. O importante tem a ver, justamente, com as propostas de lei que estão anunciadas e que
serão discutidas nessas sessões.
Nessa perspetiva, Sr. Presidente, não nos oporemos a que esses Plenários sejam convocados, pois não é
essa a razão principal que nos move relativamente à matéria que possa vir a ser agendada.
Gostaríamos, contudo, de dizer que não é apenas uma questão procedimental que está em jogo, é
sobretudo uma decisão política importante e relevante, que tem a ver com o facto de termos assistido ao facto
de a maioria ter celebrado a saída da troica como uma espécie de dia da restauração — houve até um partido
da maioria que pôs um relógio a contar o tempo que faltava para a saída da troica e, afinal, a troica não saiu!
O Parlamento devia estar numa situação de normalidade. A normalidade é justamente o decurso normal —
desculpem a redundância — do seu calendário, das suas atividades constitucional e regimentalmente
previstas.
O que agora surge é uma urgência inusitada para retomar o caminho da troica, e o Sr. Ministro dos
Assuntos Parlamentares, que se encontra presente, sabe-o perfeitamente. Afinal, a troica não saiu, a troica
continua com este Governo, não só a representá-la, mas sobretudo a executar aquilo que ela significou de
retrocesso, de desaceleração da economia e de retirada do poder de compra aos portugueses.
Mais, Sr. Presidente: há um saga, uma verdadeira perseguição à Administração Pública, aos funcionários
públicos, como bem sabemos, que foi anunciada de novo. Certamente, teremos oportunidade de debater essa
matéria quando ela for agendada, mas não podemos deixar de dizer que a motivação para a realização dos
Plenários não é uma questão procedimental, é uma questão política, que tem a ver justamente com esta
perseguição permanente aos funcionários públicos e à Administração Pública.
Sr. Presidente, nessa medida, não nos opondo certamente à realização dos Plenários, estaremos na frente
desse combate, demonstrando ao Governo e à maioria que continuam num caminho errado. Aliás, as
estatísticas recentes, nomeadamente sobre a relação da nossa dívida com o produto interno bruto,
demonstram que, infelizmente, aumentou de 132% opara 134%, corrigindo as expetativas do próprio Governo
e do Banco de Portugal, que a nossa balança de transações externas está outra vez negativa, etc.
O que o Governo vem fazer é retirar mais 34 milhões de euros à economia logo no mês de setembro para
aproveitar o corte nessa saga dos cortes dos salários da Administração Pública.
Por isso, Sr. Presidente, não nos opondo a que os Plenários sejam convocados, não podemos deixar de
denunciar o fundamento para a sua realização, que é, no fundo, a continuação de uma política que sempre
combatemos e que tem levado o País à situação desastrosa em que se encontra.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Ministro, opomo-nos à convocação
destes Plenários extraordinários que a maioria propõe. Não que a Assembleia não possa reunir em Plenário
ou em Comissão Permanente quando tal se justificar, mas a questão é que a única justificação para a
convocação desses Plenários é a obsessão quase doentia do Governo e da maioria em aplicar, o mais
rapidamente possível, cortes salariais.
A estabilidade da ordem de trabalhos e do funcionamento da Assembleia é um valor. Aliás, não há nada de
surpreendente naquilo que se está a passar. Sabia-se que o Tribunal Constitucional ia tomar uma decisão no
dia 14 de agosto — toda a gente sabia isso — e quando os Plenários foram marcados para o reinício da
sessão legislativa a 17 de setembro sabia-se que havia essa decisão do dia 14 de agosto e sabia-se que a
probabilidade de haver normas declaradas inconstitucionais era muito elevada — ninguém o ignorava.
Portanto, não há nenhuma razão justificativa para esta proposta de marcação de Plenários extraordinários, a
não ser a obsessão em aplicar cortes salariais e uma total instrumentalização da Assembleia da República por
parte do Governo e da maioria — essa é a razão procedimental.
O Governo quer deixar claro que a Assembleia da República não é mais do que uma caixa de carimbos
para aquilo que o Governo quer impor e quando o Governo quer impor. Ora, para nós, Sr. Presidente e Srs.