23 DE OUTUBRO DE 2014
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Recordo que, quando o Governo tomou posse, encontrou a dívida pública nos 96% e, de facto, de 96%
para 134%, vai uma grande diferença, são muitos milhões, são mesmo muitos milhões de euros. Três anos e
meio parecem-nos mais do que suficientes para o Governo e os partidos da maioria finalmente perceberem
que, de facto, assim, não vamos lá. O Governo impõe austeridade e sacrifícios e a dívida pública não para de
crescer.
É pois, por isso, absolutamente essencial proceder à renegociação da dívida, mas os peticionantes, para
além disso, também exigem uma auditoria cidadã que nos parece de toda oportunidade.
Ora, se são os cidadãos que estão a pagar e que vão continuar a pagar a dívida, é justo e sensato que os
mesmos saibam que dívida é esta que estão a suportar, seja através dos seus salários, seja através dos seus
impostos. Portanto, quem está a pagar a dívida tem o direito de saber de que dívida estamos a falar, de onde
vem esta dívida.
Por isso, também consideramos justo que os cidadãos possam ter acesso a todas as informações desta
auditoria.
Acompanhamos, portanto, as preocupações e os objetivos dos peticionantes e vamos votar a favor do
projeto de resolução do Bloco de Esquerda que também está em discussão e que, a nosso ver, vai ao
encontro das pretensões e dos propósitos dos peticionantes.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, começo por saudar os mais de 6400 subscritores
da petição hoje em discussão, a qual reflete o crescente reconhecimento por diferentes setores da sociedade
portuguesa da necessidade de proceder à renegociação da dívida pública.
Há três anos e meio, em abril de 2011, o PCP propôs a renegociação da dívida. Foi o primeiro partido a
fazê-lo. Da parte do PS, do PSD e do CDS choveram críticas. A proposta do PCP era, diziam eles,
irresponsável, irrealista, pois conduziria ao afundamento da economia e ao empobrecimento dos portugueses.
Em alternativa à renegociação da dívida, estas três partidos preferiram subscrever o programa da troica,
que visava, entre outros objetivos, garantir que aqueles que tinham especulado com a dívida soberana
portuguesa receberiam até ao último cêntimo o produto da sua agiotagem.
Logo no início da presente legislatura, em junho de 2011, o PCP apresentou um projeto de resolução,
recomendando a renegociação da dívida pública. Ora, PS, PSD e CDS rejeitaram este projeto, assumindo
inequivocamente a sua opção pelo agravamento e exploração dos trabalhadores, pelo aumento generalizado
de impostos e de preços, pelos cortes na saúde, na educação e na segurança social, pelos cortes nos
investimentos públicos e pelas privatizações. Enfim, assumiram a opção pelo empobrecimento da esmagadora
maioria dos portugueses, em benefício de uma ínfima minoria.
Voltámos a apresentar mais cinco vezes a nossa proposta de renegociação da dívida. De todas as vezes
foi rejeitada pelos partidos da troica interna — PS, PSD e CDS.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, a dívida pública é insustentável. Nos últimos três anos cresceu mais 51
000 milhões de euros e custará este ano mais 7000 milhões em juros, mais 45% do que quando se iniciou a
intervenção da troica.
Em resposta a uma pergunta do PCP, é a própria Comissão Europeia a reconhecer que, entre 2014 e
2020, Portugal irá pagar 60 000 milhões em juros da dívida, repito, 60 000 milhões em juros da dívida, dos
quais 8600 milhões para os fundos da União Europeia.
O País perdeu muito, nos últimos três anos, por não ter renegociado a dívida, mas pode perder muito mais
se continuar a adiar essa renegociação.
Por isso, apresentamos, hoje, na Assembleia da República, novamente, uma proposta de compromisso
político com a renegociação da dívida pública, nos juros, prazos e montantes, orientada pelo objetivo de
reduzir, de forma substancial, o seu volume e os seus encargos anuais.
Em particular, a nossa proposta contempla a necessidade de o Governo, em articulação com o Banco de
Portugal, determinar a dimensão completa e rigorosa da dívida das administrações públicas e do setor
empresarial do Estado, desagregando a sua origem, natureza e tipo de credores e avaliar a sua previsível
evolução.