I SÉRIE — NÚMERO 40
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de ouvir o Sr. Secretário de Estado no Parlamento sobre a decisão que tomou, no final de dezembro de 2012,
de transferir para o Estado, para a Parpública, um contrato swap associado a um empréstimo privado.
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Isto é de rir!
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Estamos a falar de uma decisão que o senhor tomou, na qualidade de
Secretário de Estado, sobre um empréstimo que foi celebrado entre entidades privadas — a sociedade Elos e
um sindicato bancário — com vista à construção do troço de alta velocidade Poceirão/Caia.
Uma das linhas de empréstimo desses 690 milhões de euros, mais tarde, foi transferida. Aliás, o swap
desse empréstimo foi transferido para a Parpública, para o Estado, por decisão sua, Sr. Secretário de Estado,
mas manteve o dinheiro desse empréstimo — os 87 milhões de euros — no privado, na sociedade Elos, onde
o senhor exerceu funções de administrador.
A pergunta que se coloca ao Sr. Secretário de Estado é a seguinte: onde é que está a virtude, onde é que
está o bom negócio da sua decisão? De que tem medo o Sr. Secretário de Estado se vier ao Parlamento
prestar explicações? De que tem medo a maioria PSD/CDS ao deixar vir o Sr. Secretário de Estado ao
Parlamento dar explicações sobre esta decisão?
Aplausos do PS.
Protestos do PSD, batendo com as mãos nos tampos das bancadas.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado, queira concluir.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Vou concluir, Sr.ª Presidente.
Para nós e para a maioria dos portugueses, a decisão que o Sr. Secretário de Estado tomou não é
diferente das decisões que levaram ao afastamento dos ex-Secretários de Estado Braga Lino e Juvenal
Peneda.
O Parlamento precisa das suas explicações, os portugueses exigem que explique como é que tomou essa
decisão e como é que essa decisão traz vantagens para o Estado.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias para uma intervenção.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Há uma
expressão que foi usada em várias intervenções, inclusive na do Sr. Secretário de Estado, que tem um
conceito e um significado jurídico próprio, mas que ao mesmo tempo dá que pensar, que é a do «uso privativo
do domínio público».
Uma coisa é clarificarmos, do ponto de vista da lei, quais são os usos que são dados e que podem ser
feitos relativamente ao domínio público rodoviário, designadamente. Outra coisa é verificarmos o que tem sido,
efetivamente, a política e a estratégia deste Governo, que vem submetendo aquilo que é o domínio público e
— iria mais longe — o interesse público ao uso privado e ao interesse privado dos grupos económicos.
Nesta matéria, relativamente à Rede Rodoviária Nacional, há aqui preocupações de fundo. Uma, já muito
antiga, tem a ver com as políticas de concessão aos privados da rede rodoviária e dos negócios que foram
feitos com as PPP que os sucessivos Governos foram fazendo nesta matéria. A outra, mais recente, é a de
uma PPP gigante de nova geração que poderá estar associada — e, do nosso ponto de vista, é relativamente
indissociável desta proposta em concreto, no sentido em que poderá funcionar de forma instrumental — ao tal
famoso casamento, que os senhores anunciam como fusão e que nós chamamos de desmantelamento, entre
a REFER e a Estradas de Portugal.
E quando verificamos que há aspetos em que, genericamente — e eu diria bondosamente —, se pode
considerar que é simplesmente um problema de verificarmos quem é que pode fazer o quê, onde e quando, o
problema surge quando essas questões de serviço público e de funcionamento dos sistemas de transportes se