22 DE JANEIRO DE 2015
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O Governo, com os decretos em apreciação, quer agora impor o agravamento de todo este cenário. Com
este novo velho modelo das PPP, as empresas públicas ficariam reduzidas a uma única receita — a
proveniente da bilheteira — e, ao mesmo tempo, ficariam obrigadas a pagar ao subconcessionário privado
uma verba anual maior do que a receita da bilheteira arrecadada.
Com estas PPP, as empresas públicas ficariam sem qualquer outra hipótese que não a de se endividarem,
mais uma vez, em nome do Estado, para suportarem os seus custos próprios relativos ao serviço da dívida,
aos complementos da reforma — se o Governo deixar que tenham — e a todas as restantes obrigações que
mantêm no contrato de concessão.
Com esta PPP, apenas os subconcessionários privados haviam de ganhar. Ganhavam milhões e ainda
ficavam com o direito de explorar diretamente a publicidade, os espaços comerciais e outros serviços de
rentabilização do património que lhes era dado para a mão. Veja-se o que aconteceu com a Fertagus.
O Sr. David Costa (PCP): — Uma vergonha!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Para as empresas públicas sobra a asfixia financeira: na Carris, na
Metropolitano de Lisboa, em todas as empresas públicas de transportes os utentes ainda hoje sofrem as
brutais reduções de oferta que o Governo impôs desde que tomou posse, já a pensar na privatização.
Um outro objetivo do Governo é o de anular os direitos do poder local, designadamente a Câmara
Municipal de Lisboa, face à sua intenção anunciada de tudo fazer para impedir a subconcessão da Carris e do
Metropolitano a privados.
Da mesma forma, estes diplomas entram em contradição com posições públicas da AML (Assembleia
Municipal de Lisboa) e do conjunto dos municípios que a compõem. Aliás, a Carris e o Metro assumem uma
importância particular para a cidade de Lisboa, mas desde logo, também, para toda a região metropolitana.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — O modelo que o Governo quer implementar e impor assenta na
subcontratação e na precarização da mão-de-obra, com tudo o que isso implica para a segurança do
transporte.
Os contratos dão ao subconcessionário o direito de rever toda a regulamentação existente na empresa,
como já aconteceu no Porto, grande parte dela diretamente relacionada com os trabalhadores. Este é um setor
estratégico e estamos a falar da segurança de pessoas e bens com vidas humanas em jogo.
O que queremos aqui reafirmar é que não estamos condenados a esta política, o que é preciso é que o
Governo proceda ao saneamento financeiro das empresas, não para beneficiar os interesses privados dos
grupos económicos, mas, sim, para defender o interesse público.
O que é preciso é que o Governo estabeleça condições justas de apoio à operação e ao investimento para
prestar um serviço público melhor às populações e libertar as empresas deste garrote da banca que as asfixia
e da qual o Governo serve os interesses.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é do Bloco de Esquerda.
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
Temos à nossa frente mais um exemplo do radicalismo deste Governo, que é absolutamente indiferente a
qualquer argumento financeiro, económico ou social.
Queremos ter um debate sério e queremos saber porquê, como e em que medida é que os cidadãos e o
País ficam melhor, em que medida é que o Governo não está a utilizar o Estado para fazer valer os seus
dogmas económicos em detrimento de um serviço público e do interesse dos cidadãos. Em que medida?
Porquê?