23 DE JANEIRO DE 2015
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A Sr.ª Presidente: — Vai ser distribuído, Sr. Deputado.
Vamos prosseguir com as declarações políticas desta tarde.
Para uma declaração política, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Aiveca.
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Uma mentira muita vezes repetida
não passa a ser verdade. Esta foi a frase que o Ministro da Segurança Social, Pedro Mota Soares, mais
repetiu ao longo dos últimos meses. Foi assim que respondeu sempre que foi confrontado com a sua decisão
de despedir centenas de trabalhadores na segurança social, através do chamado «processo de
requalificação».
Desde agosto, quando se tornou conhecida a decisão de enviar quase 700 trabalhadores para a
requalificação, o Ministro repetiu sempre a mesma cassete gasta: «Vamos garantir que absolutamente
ninguém será despedido na segurança social. Esse é o ponto essencial» — dizia o Ministro em novembro do
ano passado — «Absolutamente ninguém será despedido», «o mecanismo de requalificação não é um
despedimento».
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Bem lembrado!
A Sr.ª Mariana Aiveca (BE): — Em 20 de novembro, o Secretário de Estado da Administração Pública veio
ao Parlamento dizer o mesmo: que o processo de requalificação, e cito, «não envolve qualquer despedimento»
e que «a equiparação a desemprego é abusiva».
Em 26 de novembro, Agostinho Branquinho, Secretário de Estado da Segurança Social, veio também ao
Parlamento e disse, mais uma vez, em jeito de obediência ao Ministro: «absolutamente ninguém vai ser
despedido».
Ainda na semana passada, Pedro Mota Soares garantiu aos Deputados tratar-se de uma «reorganização
de serviços» e não de despedimento.
Mas o Ministro tem razão: uma mentira muitas vezes repetida não passa a ser verdade. Quando decidiu
enviar 700 trabalhadores da segurança social para o regime da requalificação, o Ministro Mota Soares, aliás,
como todo o Governo, sabia exatamente o que estava a fazer. O Ministro não é tão incompetente que não
conheça a lei, e a lei é clara.
Os trabalhadores colocados em requalificação passam por uma primeira fase em que recebem 60% do
salário e o seu vínculo é mantido; na segunda fase de requalificação, os trabalhadores recebem 40% do
salário. Mas só acedem a esta segunda fase os trabalhadores com vínculo de nomeação ou que transitaram
administrativamente para o regime do contrato de trabalho em funções públicas. Os outros trabalhadores,
mesmo os que entraram para o Estado antes de 2009, e que sempre tiveram um contrato, são despedidos ao
fim de um ano, repito, são despedidos ao fim de um ano.
E se isto não for suficientemente claro para o Ministro da Segurança Social, talvez possamos simplificar as
coisas da seguinte forma: «As regras são absolutamente claras. Sabemos quais as pessoas em que o vínculo
não permite despedimento e sabemos que há outras que, por causa do tipo de contrato, podem ser
despedidas» — não são minhas estas palavras, são da Ministra das Finanças.
Será a Sr.ª Ministra das Finanças que está a repetir mentiras ou poderemos finalmente concluir que é
verdade aquilo que sempre dissemos:…
Aplausos do BE.
… o processo de requalificação é, de facto, um despedimento coletivo de dimensões brutais e aquilo que o
Ministro Mota Soares repetiu vezes sem conta não passou de uma «mistificação», numa expressão também
usada, ontem, pela Sr.ª Ministra das Finanças?!
Aquilo que a Ministra das Finanças admitiu foi que o Ministro da Segurança Social, Luís Pedro Mota
Soares, tentou enganar os Deputados, o Parlamento, os trabalhadores da segurança social e o País.
Vozes do BE: — Muito bem!