I SÉRIE — NÚMERO 44
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Eu não sei se o Sr. Primeiro-Ministro reparou bem no que veio hoje dizer aos portugueses. O que o Sr.
Primeiro-Ministro veio dizer foi que «as pessoas que despedimos, as prestações sociais que retirámos a quem
precisava, em suma o empobrecimento dos portugueses mais a fragilização dos serviços públicos, nos cortes
que fizemos na saúde e na educação, foi uma maravilha para nós, porque permite-nos hoje dizer que o
esforço da consolidação foi feito largamente à custa da despesa.» Foi isto que o Sr. Primeiro-Ministro aqui veio
dizer.
Depois, o Sr. Primeiro-Ministro quis desvalorizar o aumento dos impostos. Eu não sei porque é que o Sr.
Primeiro-Ministro não disse que o IRS subiu para os trabalhadores 540 milhões de euros, mas que o IRC para
as empresas desceu praticamente no mesmo montante.
O Sr. João Oliveira (PCP): — É verdade!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Ou seja, aquilo que os trabalhadores pagaram a mais as
empresas pagaram a menos, as grandes empresas pagaram a menos. Foi tudo feito, portanto, à custa do
empobrecimento das pessoas e o Sr. Primeiro-Ministro ainda vem aqui gabar-se disso.
O que o Sr. Primeiro-Ministro disse da Grécia e qualificou de progresso deve deixar-nos profundamente
preocupados, porque a humilhação de um povo, o sacrifício de um povo é aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro
chama de progresso.
Sr. Primeiro-Ministro, gostava de um comentário seu e de respostas sobre esta matéria.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, o tom da sua indignação
contrasta, julgo eu, com os resultados que nós temos obtido.
Eu sei que a Sr.ª Deputada não defende e não defendeu a forma como o Governo lidou com a crise
económica e social, que a Sr.ª Deputada não queria que existisse um resgate externo e que não concorda
com o Memorando que foi executado. Nós sabemos isso, Sr.ª Deputada. Posso dizer-lhe que, quando era
Presidente do PSD e o PSD era o maior partido da oposição — estava, portanto, na oposição, não estava no
Governo —, não gostando de uma situação de resgate financeiro, não gostando da necessidade de pedir
extraordinariamente ao estrangeiro os meios de que precisávamos, disse claramente que cumpriria aquele
Memorando porque ele era essencial no financiamento de que dispunha, no apoio e no tempo que nos dava
para recuperarmos da situação trágica a que o País tinha chegado, era indispensável para que Portugal
pudesse superar essa situação.
Fizemos ajustamentos ao Memorando enquanto o executámos, fechámo-lo e arrumámo-lo. A Sr.ª
Deputada acha isso mal. Eu acho isso bem. E se perguntar à generalidade dos portugueses, eles estão
satisfeitos por essa questão ter ficado arrumada. Não teriam ficado satisfeitos — julgo eu, posso estar
enganado — se Portugal tivesse precisado de um segundo resgate, se tivesse uma trajetória insustentável da
sua dívida, se estivesse hoje a anunciar um pacote de austeridade a seguir a outro pacote de austeridade
dentro daquilo que foi considerado como a espiral recessiva de que não se sairia. Com isso, sim, eu acho que
os portugueses estariam preocupados, mas como não é isso que se está a passar eu creio que a Sr.ª
Deputada torna o seu discurso um bocadinho histriónico — não leve a mal —, na medida em que ele está
totalmente divorciado da nossa realidade.
Diz a Sr.ª Deputada: «Bem, mas o senhor veio aqui vangloriar-se dos cortes da despesa». Sr.ª Deputada,
eu venho aqui mostrar que cumpri aquilo que era preciso cumprir.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Vá mostrar ao Garcia de Horta!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Se o País tinha um Orçamento do Estado que gerou um défice público de
quase 11% de défice em 2010 e se não havia quem nos emprestasse dinheiro para gastar dessa maneira e
financiar as nossas despesas, a Sr.ª Deputada está à espera de quê? Que o Governo aumente a despesa?