I SÉRIE — NÚMERO 44
26
Eu preferiria que essa afirmação não tivesse sido feita nesses termos. Evidentemente, desejo que as taxas
na Grécia evoluam da forma mais favorável possível — ainda há uns meses, elas estiveram a convergir, a 10
anos, para quase 5% —, o que poderia, provavelmente, permitir à Grécia sair de um programa de assistência
e obter financiamento em mercado.
Hoje, essa perspetiva não existe! Do ponto de vista bolsista, a Grécia recuou dois anos; do ponto de vista
das taxas de juro, quase outro tanto. E, portanto, hoje, torna-se mais difícil para a Grécia reiniciar um caminho
que lhe permita dispensar apoio externo para poder financiar-se.
Desejo que Portugal e que os outros países europeus estejam do lado da boa solução para a Grécia e que
ajudem o governo grego a resolver o problema da Grécia. Mas espero, evidentemente, que isso não seja feito
ou alcançado à custa dos portugueses ou dos espanhóis, piorando a sua situação, deteriorando as suas
perspetivas. Pelo contrário, o que aqui quero afirmar, Sr. Deputado Nuno Magalhães — e, por seu intermédio,
dizê-lo ao Deputado Ferro Rodrigues, que fez essa observação —, é que tenhamos hoje a possibilidade de
reconhecer que a Europa não se teria mantido coesa, nem o euro teria conseguido manter-se, como uma
moeda de referência na Europa e no mundo se Portugal tivesse falhado, se a Irlanda tivesse falhado, se a
Espanha tivesse falhado.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — A Europa que queremos construir e que defendemos hoje já não existiria
porque não seria possível exigir a uma parte da Europa que suportasse o custo da outra parte. Cada um tem
de fazer a sua parte do trabalho e nós, durante estes três anos, cumprimos a nossa parte do trabalho e, por
isso, estamos em condições de reclamar que os outros também o façam. É mesmo assim!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Quando o presidente do Banco Central Europeu veio dizer «cuidado, não
julguem que a política monetária vai resolver os problemas do crescimento», ele disse bem: nós não temos a
política monetária a servir o objetivo do crescimento, mas o objetivo da estabilidade financeira e da inflação, ou
seja, de não ter uma inflação descontrolada — é esse o objetivo principal da política monetária.
Mas se, porventura, o Banco Central Europeu tiver de, como admiti várias vezes, recorrer a medidas não
convencionais para garantir a eficácia da política monetária, isso não significaria que para o Banco Central
Europeu o objetivo se tivesse alterado. O objetivo é o mesmo: não é o de estimular o crescimento da
economia, é o de garantir que não estamos em deflação.
Por isso, o Sr. Deputado Ferro Rodrigues não tem razão nenhuma: o BCE não podia, em 2010, atuar como
está a atuar agora, porque, em 2010, não tínhamos deflação. Os problemas de política monetária que se
colocavam na altura não eram estes, mas, na altura, o Banco Central Europeu esteve ativo, e eu não percebo
porquê este esquecimento do Sr. Deputado Ferro Rodrigues.
Fica-lhe mal, Sr. Deputado, até porque era um Governo do Partido Socialista que governava na altura e
que mereceu, por parte do Banco Central Europeu, a intervenção direta e indireta em mercado, para ajudar a
financiar o Estado português.
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Muito bem!
Protestos do PS.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Foram mais de 40 000 milhões de euros que, direta e indiretamente, o Banco
Central Europeu providenciou ao Estado português, durante um ano — de 2010 a 2011 —, até à altura do
resgate.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Ferro Rodrigues (PS): — Já não posso responder!