I SÉRIE — NÚMERO 45
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divorciadas, viúvas, que não estão num relacionamento, ou a mulheres casadas ou unidas de facto, mas do
mesmo sexo.
Sr.as
e Srs. Deputados, a terceira nota que quero deixar é também sobre igualdade. Há determinadas
técnicas que estão disponíveis no estrangeiro e que não o estão no País. Não estou a falar da conceção da
questão, mas de uma outra questão que se prende com o seguinte: quem tem poder económico para se
deslocar ao estrangeiro e usar técnicas de procriação medicamente assistida usa; quem não pode, fica e não
tem filhos.
Sr.as
e Srs. Deputados, julgo que há determinadas questões que nos devem fazer refletir. Falamos aqui
muito sobre natalidade e penso que há determinadas questões que temos de começar também a encaixar no
debate sobre a natalidade.
Termino, dizendo que Os Verdes votaram favoravelmente os dois projetos que estão em causa.
Aplausos de Deputados do PSD e do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Pedro
Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Na sequência das
intervenções das Sr.as
Deputadas Ângela Guerra e Isabel Galriça Neto, que ouvi com atenção, queria deixar
duas notas para fazer uma precisão que penso ser importante neste debate.
O que estamos a discutir é apenas a alteração da Lei n.º 32/2006 no sentido de definir o que é que é lícito
fazer em Portugal e o que não é. Não está em causa, pelo menos neste debate, a discussão de saber quem é
que suporta os custos inerentes à utilização das técnicas da PMA, matéria que foi referida pela Sr.ª Deputada
Ângela Guerra.
Não se está a definir a prioridade no acesso nem sequer se está a dizer que incumbe ao SNS assumir a
responsabilidade nestes casos em que não esteja diagnosticada a infertilidade.
O que está em causa é uma questão diferente. É que as pessoas que têm capacidade de se deslocar a
uma clínica privada, por hipótese, e realizar o tratamento neste momento não o podem fazer. A questão é
essencialmente esta: a lei impede quem, querendo e tendo condições para o fazer, de o fazer em Portugal.
Como a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia referia, e bem, quem tiver condições económicas para o fazer
pode deslocar-se à vizinha Espanha, que não é uma realidade completamente distinta da nossa, é um vizinho
nosso, que partilha os nossos valores, que tem o nosso quadro constitucional, e em que não há limites e em
que, como na maior parte dos países europeus, nem o estado civil nem a orientação sexual representam um
obstáculo.
Queria também fazer uma precisão que é importante não esquecer. Mesmo em casos em que existe
diagnóstico de infertilidade, uma mulher solteira continua a não poder ter acesso às técnicas de procriação
medicamente assistida, porque, efetivamente, é feito um juízo, que não incube ao legislador fazer, sobre as
condições, o estado civil e a condição familiar de uma pessoa para recorrer a técnicas de procriação
medicamente assistida com um diagnóstico de infertilidade.
É certo que propomos mais do que isto. Entendemos que deve abranger-se outro debate e a questão da
parentalidade por casais do mesmo sexo também se encontra prevista neste diploma. Mas este diploma
propõe a eliminação de uma discriminação e se, efetivamente, para resolver um problema que respeita à
infertilidade, houver disponibilidade, abertura e o reconhecimento de uma zona de consenso, por favor digam,
porque temos disponibilidade para prosseguir este debate na especialidade e para poder aprofundá-lo.
Neste caso, é tão flagrante a existência de discriminação, quando temos em tudo os requisitos preenchidos
para o acesso à lei, que nos parece intolerável manter a legislação no estado atual em que a encontramos.
Por isso, apelamos a que se possa fazer, de forma abrangente, um debate, que já tarda, de forma a que
várias centenas de mulheres, para resolver o problema que encontram quando esbarram na lei, deixem de ter
de o fazer noutro País e possam fazê-lo na segurança e tranquilidade das nossas fronteiras.
Aplausos do PS.