19 DE FEVEREIRO DE 2015
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ideia, propagada por alguns, de que foi preciso impor ao País um elevado nível de austeridade, para pôr as
contas públicas na ordem, equilibrar as contas externas e criar as bases para um crescimento saudável que
um dia acabaria por chegar… Um dia…
Em 2011, o PSD e o CDS não anunciaram que, com a sua política, os portugueses, para ficarem melhor,
teriam antes de ficar pior. Ninguém avisou os portugueses que teriam de ficar mais pobres antes de
enriquecerem, que a desigualdade ainda teria de aumentar, que muitos jovens teriam de emigrar, que os
trabalhadores do Estado e os reformados teriam de perder mais rendimento e que as urgências do Serviço
Nacional de Saúde teriam de transformar-se neste caos.
Ninguém avisou os portugueses. Mas foi isso que aconteceu. Foi a austeridade. Teve de ser. É o discurso
dos que sempre disseram que não havia e não há alternativa à austeridade.
Na realidade, para se poder dizer que não havia alternativa à austeridade tinha de se ter tentado, pelo
menos tentado, procurar uma alternativa decente, batalhar por ela. Mas não foi isso que aconteceu. Não só o
Primeiro-Ministro, ainda em campanha, disse que o programa da troica era o seu programa, como iria para lá
do mesmo. Esta foi talvez a única promessa cumprida. Logo no primeiro Orçamento foi duplicado o nível de
austeridade que tinha sido negociado com a troica.
Não podem, portanto, dizer que não havia alternativa à austeridade. A austeridade era mesmo o vosso
programa. E as consequências estão à vista:
Em quatro anos a economia portuguesa caiu 5,5%. O PIB real em 2014 ficou ao nível do de 2001. No ano
passado apresentou um crescimento anémico de 0,9% e já em desaceleração no quarto-trimestre. As
exportações em 2014, ao contrário das celebrações que foram feitas, apresentaram a quinta taxa de
crescimento mais fraca dos últimos 20 anos… 20 anos!
Mas se as exportações viram o seu crescimento desacelerar, as importações viram-no acelerar. Durante o
ano de 2014 as importações voltaram a crescer mais do que as exportações. Bastou uma ligeira recuperação
do emprego e do consumo privado para que as importações voltassem em força.
O desequilíbrio das nossas contas externas está, portanto, longe de estar resolvido. A transformação
estrutural da economia portuguesa, infelizmente, não ocorreu. Basta dizer que o investimento no PIB — e sem
investimento não há modernização, só regressão — se ficou pelos 15,8% no terceiro trimestre de 2014, o valor
mais baixo, pelo menos, desde 1960.
Como é sabido por todos, as exportações de hoje são o resultado do investimento de ontem e as
exportações de amanhã são o resultado do investimento feito hoje. E nós hoje sabemos que entre 2010 e
2013 o investimento privado caiu 20% e o investimento público caiu 62%. É, sobretudo, por causa do
investimento que devemos estar preocupados, porque nenhuma economia consegue crescer e modernizar-se
sem investimento.
Aplausos do PS.
É simplesmente impossível! E é para esse debate que o Partido Socialista quer contribuir.
O elevado endividamento das empresas portuguesas constitui um dos principais obstáculos ao
investimento privado. A dotação de 100 milhões de euros que o Governo atribuiu, no quadro do programa
PME Crescimento, para a capitalização das nossas empresas é marginal face à dimensão do problema.
Defendemos a criação de um fundo de capitalização, financiado pelos reembolsos de fundos comunitários,
por fundos públicos e via vistos gold reorientados para este fim, de forma a permitir capitalizar as empresas
portuguesas e reforçar a sua autonomia financeira.
Entendemos também que deve ser garantida a neutralidade fiscal entre capitais próprios e alheios. Não há
nenhuma razão para que os custos financeiros associados ao capital alheio sejam dedutíveis em termos
fiscais e o mesmo não aconteça quando se trata de capitais próprios.
Os fundos comunitários são, de longe, o mais importante instrumento ao nosso dispor para promover o
desenvolvimento e a modernização da nossa economia.
Preocupa-nos que o novo quadro comunitário tenha abandonado uma política de promoção e
desenvolvimento de polos de competitividade e clusters. Se quisermos maximizar as possibilidades de
desenvolvimento recorrendo a recursos escassos temos de fazer escolhas. Por isso, propomos que o sistema