I SÉRIE — NÚMERO 53
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A Sr.ª Presidente: — A última intervenção cabe ao Grupo Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes».
Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, queria talvez começar por
fazer a devolução de uma pergunta que o Sr. Primeiro-Ministro acabou agora de fazer, que é a seguinte:
porquê essa obsessão de andar sempre a defender a Alemanha?
Protestos do PSD.
Porquê essa obsessão de subserviência à Alemanha, Sr. Primeiro-Ministro?! É que não se entende, não se
compreende. Estamos em Portugal, com uma realidade muito concreta, para a qual o Governo deveria olhar.
E sabe, Sr. Primeiro-Ministro, a Alemanha é a demonstração de que, nesta Europa, há dois pesos e duas
medidas. E a Alemanha contribui para empobrecer povos, como o de Portugal. E, sim, a troica atacou a
dignidade de Portugal, como veio a reconhecer o Presidente da Comissão Europeia, e o Sr. Primeiro-Ministro
quer ignorar a questão.
Sr. Primeiro-Ministro, vou dar-lhe um exemplo. Uma das coisas mais confrangedoras a que assistimos nos
últimos tempos foi a Sr.ª Ministra das Finanças dizer – lá está, na tal prestação de vassalagem à Alemanha —
que isto em Portugal tinha corrido tudo muito bem, que foi tudo muito bom e — veja bem, Sr. Primeiro-Ministro!
— com uma grande coesão social. Quero perguntar ao Sr. Primeiro-Ministro se é capaz de dizer isso, com
essas mesmas palavras, agora, aqui, em Portugal.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Este foi um dos Governos que teve maior contestação. Hoje, os
funcionários das escolas estão em greve devido às questões da precariedade, à falta de condições de
trabalho, por não conseguirem dar a assistência às crianças e aos jovens nas nossas escolas.
Todos os dias há notícias de demissões dos diretores clínicos dos nossos hospitais.
Sr. Primeiro-Ministro, é capaz de falar em coesão social?
Aplausos de Os Verdes e do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, não tenho tal obsessão e,
pela resposta que dei há pouco, julgo que a questão está largamente respondida.
Quanto à questão da coesão social, a Sr.ª Deputada deve ter estado distraída porque esse assunto foi
debatido aqui e pronunciei-me abundantemente sobre ele.
Compreendo que é sempre difícil falar no fim, Sr.ª Deputada. Tem sempre de colocar as questões, mesmo
aquelas que já foram colocadas e respondidas.
Mas, por simpatia não posso deixar de dizer à Sr.ª Deputada aquilo que disse ainda há pouco. Na verdade,
tivemos condições muito difíceis e exigentes, mas também não deixámos de investir o suficiente para criar
condições de preservação da coesão social. Foi muito importante que, em Portugal, essas condições
pudessem ter sido criadas, e, apesar das dificuldades por que passámos e por que muitos ainda passam, foi
muito importante que essa resposta pudesse ter sido oferecida porque, sem ela, a coesão social teria estado
em perigo.
Aproveito a pergunta da Sr.ª Deputada, porque não o disse há pouco, …
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Afinal, tem mais alguma coisa para dizer!
O Sr. Primeiro-Ministro: — …embora já o tenha dito noutras ocasiões, para acrescentar uma coisa que
ainda hoje não disse. É que, em grande medida, essa coesão social foi garantida por uma cumplicidade