26 DE FEVEREIRO DE 2015
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A Sr.ª Presidente: — Para proferir a próxima declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Sérgio
Sousa Pinto.
O Sr. Sérgio Sousa Pinto (PS): — Sr.ª Presidente da Assembleia da República, Sr.as
e Srs. Deputados:
Portugal inteiro sabe hoje de experiência segura que austeridade expansionista é coisa que não existe; coabita
no caixote do lixo das fantasias do passado juntamente com criaturas sem pescoço, com o éter que levantaria
a passarola de Bartolomeu de Gusmão ou com o «homem novo» comunista, aqui ressuscitados a título
exemplificativo.
Portugal inteiro sabe que a doutrina da chamada desvalorização interna é uma aberração económica
semelhante à apropriação coletiva dos meios de produção ou à planificação económica quinquenal. Não é
apenas sinónimo de ineficácia, pobreza e anacronismo, mas de violência social, confisco de salários, roubo de
pensões, destruição de riqueza, fome, emigração.
Aplausos do PS.
Durante décadas, esquerda e direta repudiaram convictamente o ultraliberalismo à século XIX, que
responsabilizavam da ascensão dos totalitarismos do século XX. Foi preciso a eclosão da crise financeira, da
crise da dívida, da crise do euro e da crise europeia, tudo formulações descrevendo aproximadamente a
mesma coisa, para que a Europa redescobrisse as vantagens do equilíbrio orçamental eterno e o potencial
redentor da austeridade perpétua.
A crueldade e a destruição haviam de permitir reembolsar os credores e libertar as forças mágicas da
competitividade.
A respeito do trágico balanço desta política na Europa, é impossível enganar os portugueses. A
propaganda do Governo alemão e do seu satélite governativo em Portugal não se destina a convencer os
portugueses de que a austeridade resulta. Isso seria um esforço muito ingrato, bastante ridículo, mesmo
provocatório.
Trata-se, tão-somente, de humilhar os gregos, castigá-los por não obedecerem ao Ministro Schäuble e por
não escolherem estadistas competentes e visionários, com a dimensão de Passos, Portas ou Albuquerque.
Aplausos do PS.
O Syriza não é, obviamente, o meu partido.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP). — Ah!
O Sr. Sérgio Sousa Pinto (PS): — Tenho com ele muito poucas semelhanças e menos simpatias, mas
respeito a dignidade e o orgulho de quem não se concebe a si próprio como governador de um protetorado.
Os gregos não ouvirão, portanto, de Varufakis o que os portugueses já tiveram de ouvir, incrédulos, do
Ministro Paulo Portas!
Aplausos do PS.
Não me revendo especialmente no Syriza, gostava de poder dirigir-me aos gregos e falhar-lhes do sucesso
português obrado pelo triunvirato troica-Passos-Albuquerque e que o Ministro Schäuble permanentemente
invoca com o objetivo de os isolar e apupar.
Diria qualquer coisa como isto: «Caros amigos gregos, em Portugal andámos 13 anos para trás. O PIB de
2014 está ao nível do de 2001. A nossa economia perdeu 400 000 empregos. Andámos 20 anos para trás,
recuando aos níveis dos anos 90. O investimento caiu 25%, para os níveis da década de 80. Recuámos,
portanto, 30 anos. A emigração da população ativa situa-se ao nível dos anos da Guerra Colonial — um recuo
de 40 anos.
Por último, a nossa dívida ronda os 130% do PIB, sendo que, só em juros, pagaremos, em 2015, 5% do
PIB, mais até do que vós, amigos gregos».