I SÉRIE — NÚMERO 61
16
Primeiro-Ministro, está neste elemento: em 1700 vistos, apenas 3 se justificam com a criação de postos de
trabalho.
Consideramos que esta é uma opção preocupante no plano da justiça, porque a criação deste mecanismo
dos vistos dourados leva a que haja condições propícias à ocorrência de casos de corrupção, de
branqueamento de capitais ou de procuradoria ilícita. Sr. Vice-Primeiro-Ministro, o problema é que a proposta
de lei do Governo não afasta nenhuma dessas preocupações, não contém nenhuma medida para evitar essas
preocupações e a ocorrência desses fenómenos criminais — daí as perguntas que lhe fiz no início.
Não há medidas que previnam o branqueamento de capitais, não há medidas que previnam a corrupção,
não há medidas que previnam a fraude de que os cidadãos estrangeiros foram vítimas nos negócios que
envolvem a atribuição destes vistos.
Sr. Vice-Primeiro-Ministro, podíamos apenas discordar da opção do Governo, mas o problema é que
fazemos mais do que isso: constatamos que esta proposta de lei não dá resposta a nenhum dos problemas
que foram identificados e, sobretudo, que foram trazidos à praça pública a partir daquele processo-crime
envolvendo altos titulares de cargos públicos. Esta proposta de lei muda alguma coisa para que, na essência,
tudo fique na mesma.
Não há resposta quanto às preocupações relativas à corrupção, ao branqueamento de capitais ou à
procuradoria ilícita e não há resposta quanto às situações de fraude cometidas na venda de imóveis de que
foram vítimas os cidadãos estrangeiros naqueles processos que foram divulgados e até noticiados
publicamente.
Mais: as novidades da própria proposta de lei não nos descansam. Relativamente à investigação científica,
o que precisamos é de estancar a sangria de recursos humanos, particularmente de investigadores, que está a
sair do País. Ou seja, temos de estancar a sangria da capacidade científica instalada no nosso País. De facto,
precisamos de romper com a dependência externa que se regista, sobretudo, no plano científico.
Ora, o que encontramos nesta proposta de lei, quer em matéria de cultura, quer em matéria de
investigação, é que o Governo espera que aqueles que até hoje só quiseram investir na compra de imóveis e
na transferência de capitais façam também alguns investimentos em matéria de ciência e de cultura.
Os investimentos em ciência e em cultura são frequentemente fachadas de beneficência que ocultam,
infelizmente, atividades menos meritórias. Esperemos que esses problemas possam estar ultrapassados.
Sr. Vice-Primeiro-Ministro, o que lhe estou a dizer não traduz a opinião do PCP, são o Banco de Portugal e
as instituições internacionais que o dizem.
O investimento, particularmente em bens de elevado valor, como é o caso dos bens artísticos ou culturais,
é uma das formas de ocultar a proveniência ilícita de determinados capitais. Por isso, é preciso haver
mecanismos de controlo. O Sr. Vice-Primeiro-Ministro concordará que, abrindo uma porta em que pode entrar
o bom e o mau, tem de haver, pelo menos, algum mecanismo de controlo para ver quem entra, de modo a
evitar problemas.
De qualquer forma, nada disto ilude a conclusão final que entendemos que deve ser retirada de todo este
processo.
Em vez de tomar medidas de integração social e laboral para os trabalhadores imigrantes e as suas
famílias — infelizmente, condenam muitos à ilegalidade —, em vez de se preocupar, do ponto de vista
económico, em assentar a prioridade numa política económica que recupere os nossos setores produtivos e a
criação de emprego em Portugal a partir da riqueza aqui criada, em vez de procurar levar mais longe
mecanismos de aprofundamento para o combate da criminalidade económica e financeira, o Governo fez uma
opção que contraria todos estes objetivos e, portanto, o PCP continuará a não poder estar de acordo com esta
opção do Governo.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, hoje, tem estado a haver um excesso de uso do tempo, pelo que
lhes pedia que observassem mais os tempos. Quando o primeiro orador se excede no tempo, a Mesa não tem
legitimidade para controlar os tempos dos oradores que se seguem. Por isso, temos todos de ter
autocontenção.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Vice-Primeiro-Ministro.