26 DE MARÇO DE 2015
11
subtraído. A questão era saber se quando a troica fosse embora, o Governo — agora, já no pleno uso da sua
soberania, porque já não estava sob o protetorado, o relógio que o Sr. Vice-Primeiro-Ministro tinha posto a
andar para trás já tinha parado — iria devolver aos portugueses tudo quanto, em nome do programa de
ajustamento, foi apresentado com natureza provisória.
Estou a referir-me aos cortes nos salários, mas também aos cortes nas pensões; estou a referir-me à brutal
taxa de aumento de impostos sobre o rendimento do trabalho; estou a referir-me aos cortes nas prestações
sociais — abono de família, subsídio de desemprego a que, como sabe, Sr. Deputado, mais de metade dos
desempregados não tem acesso. Portanto, a questão que se colocava era a de saber se o Governo iria ou não
repor o que foi subtraído em nome do programa de ajustamento.
A troica foi embora, mas, pelos vistos, pouco ou nada foi devolvido.
Depois, o Sr. Deputado diz que o País está melhor do que em 2011. A pergunta que se impõe é esta: está
melhor para quem? Afinal, está melhor para quem?
Olhamos para a economia e está de rastos. Olhamos para os níveis de desemprego e, mesmo com a
emigração e com os truques utilizados pelo Governo, a meter os estagiários para que não contem para as
estatísticas do desemprego, mesmo assim temos taxas de desemprego históricas, temos a pobreza — basta
olharmos para os dados do INE — a atingir limites absolutamente escandalosos, porque não só aumentou,
como os pobres mais pobres ficaram.
E depois, Sr. Deputado, a dívida pública. A dívida pública, desde a tomada de posse deste Governo até
hoje, aumentou 50 000 milhões de euros!
Portanto, Sr. Deputado, o País está melhor para quem? Já nem falo nos salários, porque temos de
comparar como é que as coisas estavam em 2011 e como é que estão hoje. Como é que estávamos ao nível
dos salários? Como é que estávamos ao nível dos impostos? Como é que estávamos ao nível dos serviços
públicos?
Não podemos concluir que está melhor. Se calhar, está melhor para alguns. A minha pergunta é esta:
afinal, está melhor para quem?!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente: — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno Reis.
O Sr. Nuno Reis (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Filipe Lobo d’Ávila, quero começar por felicitá-lo
pela declaração política que acabou de fazer e reconhecer que a mesma permite vislumbrar a mesma
sagacidade que já lhe vimos no exercício de outras funções públicas, nomeadamente à frente da Secretaria de
Estado da Administração Interna. Quero aqui, em nome da minha bancada, deixar uma palavra de
reconhecimento relativamente à capacidade que demonstrou enquanto governante deste País.
O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Que lisonjeiro!
O Sr. Nuno Reis (PSD): — Quero dizer também que, na sua declaração política, ficou bem claro aquilo que
os portugueses foram conseguindo ao longo destes quase quatro anos e aquilo que era a realidade do País —
e que, de resto, é reconhecido internacionalmente pelos representantes das mais diversas instâncias de
referência — quando, a 6 de abril de 2011, há quase quatro anos, o Ministro de Estado e das Finanças
Teixeira dos Santos reconhecia publicamente não ter nos cofres (e nós não temos medo da palavra «cofres»)
dinheiro para mais de três meses para fazer face a salários de funcionários públicos, a prestações sociais e a
outras funções e obrigações do Estado.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Convém recordar essa realidade, porque ela contrasta flagrantemente com aquilo que é hoje a realidade do
País.