26 DE MARÇO DE 2015
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O Sr. João Ramos (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: O País que o Governo idealiza e que
apresenta no seu discurso político não existe. Com eleições à vista, o Governo esforça-se por esconder a
realidade e apresenta, às vezes roçando o delírio, um País que os portugueses não reconhecem no seu dia-a-
dia.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Ocultam o País real, na véspera de eleições, para ver se o País real se
esquece do mal que recebeu. Vão escondendo debaixo do tapete problemas que reaparecerão mal passem as
eleições.
E, para isto, a dita «ajuda externa» continua. Os portugueses que esperam e desesperam nas urgências,
que têm de emigrar para que outros mais explorados, mais mal tratados, venham desempenhar as suas
funções, que viram o seu poder de compra drasticamente reduzido e que tiveram os seus salários e pensões
cortados ouvem, atónitos, o Governador do Banco Central Europeu dizer que Portugal é um exemplo de
sucesso. Aqueles que integraram a troica e impuseram ao País um programa a que muito justamente o PCP
chamou de pacto de agressão são os únicos que fazem agora uma avaliação positiva.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Como se quem faz o diagnóstico, escolhe e aplica a terapêutica tivesse
isenção suficiente para nos dizer que, afinal, o tratamento foi o errado.
O Governo esconde os problemas para criar uma ilusão. Felizmente para o País, essa ilusão não safará o
PSD e o CDS da derrota. Tal como o Governo já está, social e politicamente, derrotado, também os partidos
que o suportam sairão derrotados nas próximas eleições.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Ramos (PCP): — São muitos os exemplos das discrepâncias entre o País inventado pelo
Governo e o País vivido pelos portugueses e queremos destacar aqui dois desses exemplos: a agricultura e o
turismo.
No caso da agricultura, o discurso político da Ministra já não é dirigido para o setor agrícola, que conhece e
sente os problemas e as dificuldades, mas para o largo número de portugueses, afastados da realidade do
mundo rural, tentando convencê-los de que a agricultura é um sucesso, em Portugal. Será um sucesso para o
agronegócio, para a grande agricultura de cariz industrial — os quais recebem milhões em apoios públicos
(recorde-se que apenas 60 recebem tanto como os 120 000 mais pequenos) —, orientada para a exportação e
tantas vezes associada a mão-de-obra imigrante e barata. A agricultura que produz para consumo interno e de
proximidade, que tem potencial para fixar as pessoas no território, combatendo o despovoamento, essa,
atravessa as maiores dificuldades. Vejam-se os problemas dos preços pagos ao produtor, com leite vendido a
30 cêntimos/kg ou a batata vendida a 5 cêntimos/kg, e os casos em que as produções são entregues sem
qualquer preço, como a uva e as frutas. O falso sucesso da ação do Governo é gritante. No caso do leite,
cujas quotas vão terminar no final deste mês, esse fim será dramático! O efeito sente-se desde o início da
chamada «aterragem suave», com o aumento da produção nos países do norte da Europa, face à
oportunidade — para eles, mas não para nós — do fim das quotas leiteiras.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Ramos (PCP): — Portugal pode passar de País autossuficiente para forte importador de leite.
Isto com a destruição de explorações e de empregos.
As confederações da agricultura, aquelas que não se confundem com o Ministério, são muito críticas
relativamente aos programas de apoio comunitário. São várias as que afirmam que o novo PDR (Programa de
Desenvolvimento Rural) faz claramente uma distinção entre os grandes agricultores, que são beneficiados, e
os pequenos, que ficarão cada vez mais afastados dos apoios. Isto não é novidade. Este é um Governo que