23 DE ABRIL DE 2015
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Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
Manifestamos, evidentemente, a nossa consternação e o nosso choque com que está a acontecer no mar
Mediterrâneo, pela dimensão da tragédia muito recentemente ocorrida, mas não apenas, também com as
outras tragédias que se sucedem no mar Mediterrâneo, com pessoas que desesperadamente tentam atingir a
sobrevivência que não conseguem garantir nos seus países.
Não se trata aqui, como às vezes ouvimos dizer, de perseguir qualquer sonho, trata-se apenas de tentar
sobreviver a todo o custo. Associamo-nos, por isso, a todo o pesar que se possa manifestar pela situação que
se está a verificar.
Já aqui se falou de hipocrisia, e é bom que se fale de hipocrisia. Hipocrisia dos dirigentes da União
Europeia, que lamentam as consequências depois de terem de assumir responsabilidades pelas causas. Não
nos podemos esquecer disso.
Ninguém ignora que o caos que existe na Líbia foi criado com intervenção direta da força aérea britânica e
da força aérea francesa, que instalaram no poder aqueles que, agora, promovem o caos nesse país.
Não nos podemos esquecer das responsabilidades de países da União Europeia na situação que se vive
na Líbia, inclusivamente no apoio ao Estado Islâmico, que agora tanto se lamenta mas que foi um facto real.
Não nos podemos esquecer da origem de tudo isto, há alguns anos, com a guerra do Iraque, que era para
destruir umas armas de destruição maciça que, afinal, não existiam.
Não nos podemos esquecer desta hipocrisia de quem lamenta as consequências depois de ter promovido
as causas.
Mas a preocupação da União Europeia, agora, perante esta situação, não devia ser a preocupação de que
cheguem muitos milhares de pessoas à Europa. A preocupação devia ser maior com os que não chegam, com
os que morrem no caminho às mãos das máfias e dos gangs de recetadores que procuram extorquir a essas
pessoas os seus parcos haveres com a promessa de as fazer chegar à Europa, pessoas essas que tantas
vezes naufragam pelo caminho.
A preocupação da União Europeia devia ser com a situação das pessoas nos seus países, não
incentivando as guerras que dilaceram estes países e combatendo efetivamente as máfias que, no mar
Mediterrâneo, exploram essas pessoas.
Finalmente, Sr.ª Presidente, não pode a União Europeia lamentar os mortos e expulsar os sobreviventes.
As pessoas que conseguem chegar à Europa nestas condições têm de ser tratadas com humanidade e com
dignidade. E exige-se que os países da União Europeia tratem de forma humana e digna essas pessoas, sem
ceder aos ventos de racismo e de xenofobia que campeiam por essa Europa fora e que, tal como as máfias,
também têm de ser combatidos de uma forma intransigente.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O
mar Mediterrâneo tem hoje as rotas mais mortíferas do mundo. É a classificação que a ONU atribui, quando
assistimos com uma frequência alucinante aos naufrágios que arrancam à vida milhares de mulheres, homens
e crianças.
Quantas vezes nos interrogamos: porquê? Por que entram em embarcações sobrelotadas e enfrentam os
perigos e o desconhecido? A resposta está no drama que é a sua vida, na fome e na miséria, na ausência total
de expectativas face ao futuro, na guerra e na violência que se vive nos seus países. O que faríamos, cada um
e cada uma de nós, pela sobrevivência dos nossos filhos e filhas?
O genocídio que tem lugar nas águas do Mediterrâneo tem que ter um fim. A Europa, a União Europeia tem
a responsabilidade de travar esta tragédia humanitária. A nenhum ser humano, repito, a nenhum ser humano