I SÉRIE — NÚMERO 76
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O Programa Nacional de Reformas define as políticas propostas pelo Governo para promover o
crescimento económico sustentado e criador de emprego num horizonte de médio prazo, e explicita a sua
articulação com a estratégia traçada para o desenvolvimento da União Europeia como um todo.
O Governo português partilha as prioridades definidas pela Comissão Europeia na Análise Anual do
Crescimento para 2015, que refletem o momento que se vive na Europa e a necessidade de dar robustez ao
crescimento económico que começa a fazer sentir-se na generalidade dos países.
O Governo revê-se também na importância de uma abordagem integrada, assente no estímulo ao
investimento, no compromisso renovado com as reformas estruturais e na prossecução do sentido de
responsabilidade orçamental, pois só esta abordagem integrada assegura o desenvolvimento económico e
social do País.
A recuperação do investimento está já em curso, beneficiando nomeadamente das reformas introduzidas
em múltiplas áreas ao longo dos últimos quatro anos, que têm reforçado a competitividade da economia
portuguesa e reduzido os custos de contexto. Mas acelerará certamente com o desenvolvimento de novas
iniciativas no futuro, abrindo caminho à criação de cada vez mais e melhores empregos, dando assim resposta
ao tema que, legitimamente, mais preocupa os portugueses.
O compromisso com as reformas estruturais, por sua vez, tem, efetivamente, de ser permanente.
A par destes dois pilares, também a prossecução da responsabilidade orçamental é indispensável para
assegurar a transição para um crescimento económico verdadeiramente sustentado. Por um lado, constitui um
determinante contributo para a estabilidade financeira do País, resultando em melhores condições de
financiamento para o Tesouro, que se estendem à generalidade da economia. Por outro, a disciplina
orçamental, a promoção da qualidade das finanças públicas, e a contenção da despesa pública, permitem, em
conjunto, que o Estado gaste apenas os recursos de que precisa para a função de redistribuição de riqueza.
Esta racionalização abre caminho a uma carga fiscal mais baixa e permite a disponibilização de mais
recursos para a economia, em particular para o investimento privado produtivo. E é este investimento que
potencia a criação de emprego e de novos recursos.
A estratégia orçamental do Programa de Estabilidade mantém assim o mesmo sentido de responsabilidade
dos últimos quatro anos, respeitando o enquadramento europeu aplicável e o princípio de sustentabilidade das
finanças públicas, e assume o desagravamento gradual dos sacrifícios pedidos aos portugueses.
O rigor e a disciplina orçamental são igualmente relevantes neste novo ciclo de gestão das finanças
públicas pelos benefícios diretos do empenho constante na solidez das contas públicas mas também pelos
benefícios crescentes de uma participação séria e ativa na União Europeia.
Com efeito, ao definir, no Programa de Estabilidade, uma trajetória orçamental que assegura o
cumprimento das regras europeias, abre-se a possibilidade de requerer o uso da flexibilidade para os Estados-
membros posicionados no braço preventivo do Pacto de Estabilidade e Crescimento. A utilização das
designadas cláusulas das reformas estruturais e do investimento é restrita e é necessariamente acompanhada
de demonstração quantificada dos benefícios económicos e orçamentais a médio prazo. Terá, assim, de ser
criteriosamente ponderada, garantindo a escolha das opções com maior potencial de retorno. Mas, acima de
tudo, terão de ser asseguradas as condições para a sua solicitação formal, nomeadamente a saída efetiva do
procedimento por défice excessivo e uma trajetória adequada do saldo estrutural.
Para o ano de 2015, o Governo reitera o firme compromisso de reduzir o défice orçamental para um valor
inferior a 3% do PIB, permitindo encerrar o procedimento por défice excessivo no ano definido pelo Conselho.
Em consonância, Portugal entrará no braço preventivo já a partir de 2016, podendo tirar benefício das
referidas condições de flexibilidade. É também em 2016 que o País alcançará o objetivo de médio prazo para
o saldo estrutural, um ano antes do previsto no último documento de estratégia orçamental de médio prazo.
Estes resultados refletem o sucesso da política orçamental dos últimos anos, que permitiu a decisiva
estabilização da situação económica e orçamental em Portugal. Uma estabilização notável, tendo em conta
um ponto de partida de bancarrota iminente, e particularmente relevante por permitir desenhar um cenário
para 2015-2019 em que são revertidas as principais medidas transitórias de consolidação que tiveram de ser
adotadas no período mais crítico de emergência financeira.
Mantendo o sentido de responsabilidade que comprovadamente foi bem-sucedido, esta reversão será
necessariamente gradual, em linha com uma disponibilidade orçamental crescente ao longo do tempo.