18 DE JUNHO DE 2015
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: «A vida das pessoas não está
melhor, mas o País está muito melhor». A expressão do Deputado Luís Montenegro representa bem a linha
que tem sido seguida pelo Governo nestes quatro anos. A vida das pessoas é o elemento menor das
preocupações de um Governo que se comporta como se as pessoas comessem juros ao pequeno-almoço.
De resto, nem se percebe bem como é que é possível o País estar melhor se as pessoas estão pior. Um
país é a sua gente, as pessoas de carne e osso que lá vivem e não uma entidade abstrata. É certo que,
graças às políticas do Governo, o País tem cada vez menos pessoas. A natalidade caiu a pique, descendo
mais nos primeiros três anos da maioria da direita do que na década anterior, e as portas fechadas a toda uma
geração levaram centenas de milhar a procurar o futuro noutro país.
Os números são reveladores. Desde final de 2010, a riqueza produzida em Portugal diminui 10 mil milhões
de euros. Há menos 457 000 trabalhadores empregados e, muitos dos que trabalham, não conseguem fugir da
pobreza. O salário médio das novas contratações, desde finais de 2013, está nos 581 € brutos. Depois dos
descontos, pouco fica acima dos 500 €. E, repito, este é o valor médio de todos os salários em Portugal nos
últimos anos.
E é neste cenário, onde 9 em cada 10 dos empregos criados são precários e os salários são cada vez mais
curtos, que o Primeiro-Ministro lamenta não ter reduzido os custos do trabalho. Ainda mais?! 581 €, antes dos
descontos, ainda é vivermos acima das nossas possibilidades? Quando é que estão contentes?
Não contente com a desvalorização salarial, as políticas seguidas pelo Governo aumentaram ainda mais a
desigualdade social e agravaram as situações de pobreza extrema. Em 2010, os rendimentos do trabalho
representavam 47,2% da riqueza nacional; em 2014, este valor representava 43,8%. Há 27 anos que a
disparidade entre rendimentos do trabalho e capital não era tão grotesca.
No início do século, o IRC representava 40% das receitas fiscais indiretas e o IRS 60%. Hoje, os lucros das
empresas valem apenas cerca de 25% desse total e os trabalhadores suportam 75% da carga fiscal. Nenhum
Governo, como o dos anunciados «amigos do contribuinte», fez tanto para colocar trabalhadores e famílias a
ser o mealheiro do Estado.
Podemos olhar para os números e dizer que são isso mesmo, números. Mas cada ponto percentual deste
aumento da carga fiscal e do aumento da desigualdade induzida pela massiva transferência de recursos do
trabalho para o capital, que é a verdadeira reforma estrutural deste Governo, afeta a vida de milhares de
pessoas. Famílias inteiras que se veem obrigadas a escolher entre a comida e o medicamento absolutamente
necessário, a cortar na fruta e legumes e nos cuidados primários de saúde.
Sr.as
e Srs. Deputados, os índices de pobreza aumentaram, e aumentaram muito, nestes quatro anos, e a
direita conseguiu fazer o impensável: diminuiu o apoio social, via RSI (rendimento social de inserção) e CSI
(complemento solidário para idosos), a quem comprovadamente menos tem. Há, neste momento, menos 160
000 pessoas a receber o RSI e o seu valor médio desceu 78 €. A redução afetou sobremaneira as crianças.
De um valor médio de 94 € por cada menor, a direita «amiga das famílias» cortou o apoio às crianças mais
desfavorecidas para 53 €. Repito: 53 €! Com amigos destes, é caso para dizer que ninguém se precisa de
preocupar com quem lhe quer mal.
Aplausos do BE.
Mas já conhecemos a resposta da direita, de tão estafada e demagógica que é. O orçamento do RSI
desceu para quase metade e há menos pessoas abrangidas pelo apoio a quem já nada tem porque, agora
sim, há rigor na aplicação desta política. Nada mais falso! O RSI, até pela despudorada demagogia que o CDS
sempre lhe reservou, foi sempre o dinheiro público mais fiscalizado e monitorizado. Tivesse o Governo metade
do zelo que dedica a fiscalizar os mais pobres nos perdões fiscais ou benefícios que vai concedendo às
grandes empresas e estaríamos todos bem melhor.
Dizer agora que lamentam os cortes brutais que incidiram sobre as políticas sociais, mas não havia outra
alternativa em contexto de contas apertadas, também não vale. E não vale porque não é verdade!
As contas foram feitas e são absolutamente reveladoras. Pagar a alimentação de uma família de quatro
pessoas nas cantinas sociais, que o Ministro Pedro Mota Soares costuma apresentar como o alfa e o ómega
da preocupação social do Governo, custa 600 € por mês. O valor máximo do RSI para esta família são 380
euros, e não apoia apenas a alimentação mas todos os seus gastos.