I SÉRIE — NÚMERO 99
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O que nós temos, Sr.as
e Srs. Deputados, é uma política de perseguição social aos mais desfavorecidos e a
tentativa de fazer da pobreza um negócio.
Deixámos de ter um Ministério da Solidariedade e Segurança Social para ter um ministro das IPSS. É uma
visão assistencialista, que defende que os pobres não devem ser apoiados monetariamente para viver em
autonomia e contrapõe com a humilhação do pagamento em géneros. Para esta direita, os pobres, já se sabe,
não têm competências para decidir onde gastar o seu dinheiro. E à medida que o Governo vai desmontando
as políticas públicas e transferências sociais que permitiram reduzir o risco de pobreza para metade, vai
crescendo um negócio de centenas de milhões. Milhões que são mal fiscalizados, dos quais não se conhecem
os seus resultados e impacto real. Tostões para quem mais necessita, milhões para quem vive do zelo
destruidor do Estado, eis a política da direita em todo o seu esplendor.
Aplausos do BE.
Sr.as
e Srs. Deputados, não acreditamos, ao contrário do que diz o Deputado Luís Montenegro, que seja
possível um país estar melhor se os seus cidadãos estão pior. Não nos conformamos, de resto, com o
aumento do número de pobres.
Ancorada nos valores de 2009, a taxa de pobreza encontra-se atualmente nos 25,9%, um aumento de oito
pontos. Um em cada quatro portugueses está abaixo da linha da pobreza. Nenhum país que se leve a sério
pode cruzar os braços perante esta realidade avassaladora.
O Bloco de Esquerda propõe, por isso, uma série de medidas para combater a pobreza, apoiar quem
menos tem e tem vindo a ser deixado para trás. Temos 700 000 desempregados e desempregadas sem
qualquer apoio. Defendemos, por isso, a diminuição do prazo de garantia para poder aceder ao subsídio de
desemprego, de 365 dias para 180 dias, e ao subsídio social de desemprego, de 180 dias para 90 dias.
Para reverter uma política salarial que deixou de responder às necessidades e condições de vida das
pessoas, defendemos o aumento imediato, urgente, do salário mínimo nacional para os 545 €. No mesmo
sentido, o IVA de produtos de primeira necessidade deve voltar à taxa mínima, incluindo, desde logo, a
energia.
Entendemos que bens essenciais, como o acesso à luz, eletricidade ou gás natural nunca devem ser
cortados por questões de carência económica e suspendemos as atualizações de renda ao abrigo do regime
da renda apoiada — proteger a habitação, proteger a habitação com luz, com água, com gás.
Sr.as
e Srs. Deputados, o que vos trazemos aqui é um desafio e um compromisso. O desafio de responder
à crise social, de olhar de frente a tragédia de quem está sem emprego e sem apoio, de quem não consegue
pagar a luz e a casa. Responder e não ignorar o sofrimento! Responder e não mais abandonar as vítimas da
crise! Responder e não mais inventar más desculpas sobre o dinheiro que falta!
Quando um banco colapsa, o dinheiro aparece. Para o BES, numa noite de agosto, apareceram 4900
milhões de euros públicos. Outras tantas vezes apareceu outro tanto. E aparece sempre porque, dizem-nos, é
a única forma de evitar o risco sistémico gigante que o colapso de um banco pode provocar.
Então, e quando colapsam as famílias? As crianças? Os idosos? Quando colapsa quem perdeu tudo com a
crise? Podemos nós não responder ao enorme risco sistémico que a pobreza representa no nosso País?!
Diga o Sr. Primeiro-Ministro o que disser, a verdade é que nenhuma história acaba bem se as pessoas
ficarem para trás.
O desafio que o Bloco de Esquerda aqui vos faz é o de responder agora a quem perdeu tudo. O
compromisso é não desistir do País, não desistir das pessoas, não permitir a terraplanagem dos mais básicos
direitos e condições de vida. Esse é o compromisso de que o País precisa e é para esse que vos convocamos:
responder às pessoas, em nome da dignidade e em nome dos direitos humanos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, quatro Srs. Deputados,
pelo que a Sr.ª Deputada informará a Mesa se responde em conjunto ou isoladamente.
Tem a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado João Paulo Pedrosa.