4 DE JULHO DE 2015
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Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP, votos a favor do PCP,
do BE e de Os Verdes e abstenções dos Deputados do PS Carlos Enes, Elza Pais, Isabel Alves Moreira e
Pedro Delgado Alves.
Era o seguinte:
A União Europeia esteve contra todos os referendos que pôde. O referendo ao Tratado de Maastricht, à
moeda única, à constituição europeia. Essa aversão à vontade dos povos trouxe-nos a uma crise sem
precedentes na Europa. Para a resolver, é preciso convocar a democracia. Foi o que fez Alexis Tsipras,
Primeiro-Ministro da Grécia, numa decisão histórica para a Europa. Quando a austeridade mata e a
democracia morre, a Grécia resiste e lança um apelo que é europeu e mundial, contra a ditadura dos
mercados e o golpismo das instituições financeiras.
Está em curso uma dose nunca vista de manipulação e atemorização da população, não apenas na Grécia
mas em toda a Europa, contra o governo grego. A chantagem da finança é hoje mais clara que nunca. O FMI,
instituição não democrática e não europeia, assumiu um protagonismo inédito nas negociações europeias,
impedindo, com a cumplicidade da Comissão Europeia e o apoio implícito da aliança entre Partido Popular
Europeu e Partido Socialista Europeu, um acordo que responda às necessidades da população grega. O BCE
fez escalar a chantagem contra o povo grego, afirmando que a liquidez à banca poderia ser cortada a qualquer
momento e obrigando assim o Banco Nacional da Grécia a recomendar o encerramento dos bancos.
Perante a chantagem, o Governo grego manteve a decisão democrática do referendo. Pela primeira vez,
um governo europeu coloca a democracia no centro da decisão e rejeita o empobrecimento sem fim do seu
povo. O caminho pode ter aspetos difíceis, certamente. Mas essas são as primeiras dores do nascimento de
uma Europa nova, a partir do arco da solidariedade entre os povos. Só a solidariedade e a democracia podem
responder à crise, resgatar a Europa da ditadura financeira e afirmar a dignidade dos povos.
A Assembleia da República, reunida em Plenário, expressa a sua solidariedade com o povo grego e
manifesta o seu repúdio às pressões indevidas que tentam condicionar a escolha livre e democrática do povo.
Neste momento, os Deputados do BE exibiram cartazes onde se lia «Solidariedade com a Grécia».
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, peço-vos o favor de recolherem os cartazes.
Prosseguimos com a votação do voto n.º 301/XII (4.ª) — Por uma solução negociada que reforce o projeto
europeu, fortaleça o euro e reconheça as aspirações fundamentais do povo grego (PS).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PS, votos contra do PCP, do BE e de Os Verdes
e abstenções do PSD e do CDS-PP.
É o seguinte:
A circunstância de não ter sido atingido um acordo entre as instituições europeias e o Fundo Monetário
Internacional e o Governo da Grécia e de as negociações terem sido suspensas, é motivo de apreensão. Isso
afeta o projeto europeu e os interesses dos europeus, incluindo os portugueses.
A missão das instituições europeias, em que todos, numa postura de responsabilidade, devemos
empenhar-nos, é o fortalecimento da zona euro e da confiança na moeda única e, por essa via, a contribuição
para a estabilidade económica que permitirá enfrentar os problemas fundamentais da Europa,
designadamente o desemprego e o crescimento insuficiente.
É urgente substituir o confronto entre posições radicais por uma negociação construtiva. A intranquilidade
que estamos a viver demonstra a imprudência de quem não se empenhou suficientemente num acordo e o
erro estratégico de quem pensa ser possível virar a página da austeridade numa posição unilateral de
confronto.
Neste contexto, Portugal não pode deixar de assumir um papel ativo e impulsionador de entendimentos que
acautelem os interesses vitais da Europa e dos seus Estados-membros, incluindo a Grécia.
A Assembleia da República, reunida em Plenário: