I SÉRIE — NÚMERO 8
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulino
Ascenção.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Madeira tem sido afetada com
grande frequência, nos últimos anos, por incêndios e cheias. Foram seis catástrofes em sete anos: cheias em
2010 e 2013; incêndios em 2010, 2012, 2013 e 2016, este último com três perdas de vida a lamentar e largos
prejuízos e destruição de habitações. Será isto uma fatalidade? É apenas responsabilidade dos incendiários,
das condições meteorológicas, das alterações climáticas ou da falta de meios de combate? Este é o discurso
de quem tem responsabilidades e quer escondê-las. Esta insistência nos atos individuais dos incendiários, como
aqui foi referido pela Sr.ª Deputada Sara Madruga, visa tão-só escamotear a responsabilidade do PSD, que
governa a Região Autónoma da Madeira há 40 anos e que descurou a prevenção e o ordenamento florestal e
urbanístico e sempre permitiu extração e depósito de inertes nos leitos de cheia dos cursos de água.
Não foi o Governo que ateou o fogo, mas se tivesse implementado medidas de prevenção estes atos
tresloucados teriam tido consequências muito menores, incomparáveis com as proporções que, efetivamente,
tiveram.
Outra situação que se repete a cada ocorrência de incêndios é um aceso debate sobre os meios aéreos de
que a Madeira não dispõe. Há vários estudos e opiniões contraditórias, e este não é o lugar para esmiuçar
questões técnicas, mas há uma questão importante, que é a do custo elevado destes meios para serem
utilizados esporadicamente — estamos a falar de quatro ocorrências de incêndios em sete anos — e com
eficácia, no mínimo, duvidosa, segundo opiniões de alguns especialistas.
Porém, a Força Aérea já dispõe de meios aéreos na Região, dedicados à busca e salvamento, meios esses
que podem ser adaptados ou substituídos por outros que combinem as duas valências: busca e salvamento e
combate a fogos. Esta solução seria um investimento muito menor e, portanto, mais justificável.
Mas primordial é a questão de fundo e o que o Bloco defende é que a tónica tem de ser colocada na
prevenção e no ordenamento e não no combate. Não podemos andar sistematicamente a correr atrás do
prejuízo. É preciso prevenção na limpeza da floresta, no combate às espécies exóticas, na proteção e expansão
das espécies endémicas da floresta laurissilva, que é património da humanidade e é muito mais eficaz na
sustentação dos solos, minimizando derrocadas, muito mais resistente à propagação dos fogos e fundamental
na captação de água — nos meses de verão, 66% da precipitação é oculta, pela captação da humidade contida
no nevoeiro por impacto com o coberto vegetal. Esta prevenção foi descurada pelo PSD, que governou a Região
e as autarquias da Madeira, nos últimos 40 anos.
O Governo Regional aparece sempre de mão estendida a Lisboa para cobrir os prejuízos e, como a resposta
é sempre positiva, e ainda bem, isto parece alimentar a incúria — não é preciso prevenção, porque Lisboa há
de pagar o prejuízo —, mas quando dispõe dos meios desbarata-os, como sucedeu com a Lei de Meios para
acudir à intempérie de 2010, de 1040 milhões de euros, largos dos quais foram literalmente atirados ao mar em
obras inúteis, nomeadamente na construção de um cais que não serve para nada, e continuam a ser
desbaratados em obras de utilidade duvidosa, pelo atual Governo, nas ribeiras do Funchal, a destruir pontes e
muralhas centenárias.
Entretanto, reassumiu a presidência o Presidente, Ferro Rodrigues.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — O PSD recomenda ao Governo que faça aquilo que o Governo já está a
fazer e a que, publicamente, já se comprometeu, tal como sucede com a resolução do CDS, fazendo ambos
tábua rasa da autonomia…
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — … ao sugerir uma comissão interministerial constituída por ministérios que
não têm competências nas Regiões Autónomas, porque essas competências estão regionalizadas.