I SÉRIE — NÚMERO 13
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, sempre dissemos que tributar as
grandes fortunas imobiliárias faz sentido se for para aumentar as pensões, faz sentido se for para a segurança
social. Ainda bem que assim é! Veremos o resto.
Um Orçamento do Estado é sempre uma negociação, um Orçamento do Estado não é como a pescada que
«antes de o ser já o era».
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Espetacular!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Não! É trabalhado, é negociado… Mas aqui estaremos todos os dias, em
todos os momentos e faremos esse trabalho na especialidade.
Há um tema de que quero falar, porque para nós é particularmente importante no debate do Orçamento do
Estado. Sendo uma matéria que não é estritamente orçamental ou cujo impacto não é sequer principalmente
orçamental, é uma matéria de toda a importância na recuperação de rendimentos de quem vive do seu trabalho,
em Portugal.
Para o Bloco de Esquerda, a estratégia de recuperação de rendimentos tem de chegar a todas as gerações.
Um terço dos jovens em Portugal está desempregado, dois terços dos que trabalham são precários e os
precários e as precárias são sempre os primeiros a ficar no desemprego e são também aqueles que têm menos
rendimento. O salário de um trabalhador precário ou de uma trabalhadora precária é menos 25% de um salário
de um trabalhador não precário. Se tivermos duas pessoas no mesmo posto de trabalho, com os mesmos anos
de carreira, com as mesmas qualificações, com as mesmas competências, com a mesma capacidade, a que
tem o contrato precário recebe três salários e meio a menos do que a que tem um contrato efetivo. Isto tem de
acabar! Para que nos compreendamos: é como se, em relação a dois trabalhadores, um ao lado do outro, um
deles, embora continue a trabalhar até dezembro, começa a ficar sem salário em setembro. Não é aceitável!
O combate à precariedade é a principal arma para que a recuperação de rendimentos chegue a todas as
gerações e é a principal arma da justiça, da dignidade, da distribuição da riqueza no nosso País.
Para o Bloco de Esquerda, o trabalho do Orçamento que estamos a fazer só pode ter sentido se for
acompanhado por medidas claras de combate à precariedade, desde logo combatendo o recurso aos falsos
estágios, às falsas bolsas, ao falso trabalho voluntário, aos falsos temporários e limitando as empresas de
trabalho temporário, cujo rendimento tem vindo a subir ano após ano, ao mesmo tempo que os salários de quem
trabalha têm vindo a descer ano após ano.
Portanto, para este Orçamento, o desafio que o Bloco de Esquerda faz desde já, para lá de cada medida
setorial que veremos na especialidade e que nos preocupam, porque 2017 tem de ser um ano de mudança para
o investimento para podermos responder à saúde, à educação, aos setores produtivos, para se criar emprego,
é o de que só teremos um resultado que chegue a todas as pessoas se formos capazes de combater a
precariedade e com isso responder pela dignidade e pelo rendimento de todas as gerações.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Sr. Primeiro-Ministro, para responder, tem a palavra.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, acompanho-a num ponto
fundamental: a precariedade é, hoje, a maior chaga do nosso mercado de trabalho, é uma das nossas maiores
chagas económicas.
Empresas assentes na precariedade não são empresas que alguma vez possam ser produtivas, porque a
produtividade implica formação, implica conhecimento, implica aprendizagem de métodos de trabalho. E quem
é precário nem veste a camisola da empresa, nem a empresa investe naquela relação laboral. Relações laborais
assentes na precariedade destroem completamente a economia de que nós necessitamos.
Por isso, no âmbito da concertação social, o Sr. Ministro do Trabalho e da Segurança Social apresentou uma
iniciativa para discussão com os parceiros, tendo em vista atacar a precariedade: um programa nacional de
combate à precariedade.