I SÉRIE — NÚMERO 24
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aumento já a partir de janeiro e fazê-lo sem discriminar negativamente aqueles que auferem pensões mais
baixas? Não há dinheiro em janeiro e ele aparece, subitamente, a menos de dois meses das autárquicas?
O Governo e a sua maioria podem dar as justificações que entenderem, mas, pelo menos, não queiram fazer
de nós tolos!
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Em bom português, o que querem fazer com esta medida chama-se eleitoralismo, chama-se oportunismo,
chama-se, sobretudo, falta de vergonha.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Nem tudo é mau neste Orçamento. Este Orçamento tem, apesar de tudo, uma virtude política, embora não
seja no seu conteúdo: a de pôr fim, de uma vez por todas, a uma farsa e a de demonstrar, de uma vez por todas,
que não temos, em Portugal, um Executivo do Partido Socialista, temos um verdadeiro Governo de unidade das
esquerdas.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. José de Matos Correia (PSD): — É certo que o Bloco de Esquerda e o PCP ensaiam, aqui e ali,
atitudes de pretensa autonomia face aos socialistas, mas não passam de manobras de diversão, de engodos
para tentar confundir os mais distraídos.
Já que o Sr. Deputado Carlos César entrou pelo radicalismo do amor, permita-me que lhe diga que, no fundo,
não são mais do que arrufos de namorados que visam, quiçá, apimentar a relação.
Risos e aplausos do PSD.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Passou do insulto à provocação!
O Sr. José de Matos Correia (PSD): — Mas são joguinhos que não chegam para esconder a verdade, e a
verdade é que este é um Governo assente numa verdadeira e própria coligação entre quatro partidos que têm
um programa político comum; é um Governo em que todos materialmente participam, com a originalidade formal
de um o integrar e de os outros três fingirem que estão de fora; é um Governo que atesta, sobretudo, a
confluência ideológica entre os quatro partidos, só possível pela progressiva radicalização do Partido Socialista,
que assim abandona — e esperemos que não o faça definitivamente — a matriz política que fez dele um partido
central da nossa democracia.
Protestos do PS.
Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados, porque com este
Orçamento o Governo se demitiu das suas responsabilidades, o PSD entendeu que era politicamente oportuno
apresentar um conjunto de propostas de natureza estrutural — porque foram de natureza estrutural, e não aquela
imagem jocosa que o Sr. Deputado Carlos César, como é seu hábito, pretendeu transmitir.
Em vez da lógica do leilão orçamental, em que a esquerda, em particular, é especialista, preferimos, no
entanto, a lógica do trabalho sério e sustentado, identificando três áreas prioritárias de intervenção, sempre
numa perspetiva de futuro: a área do poder local e da descentralização de competências, ou seja, da reforma
vertical do Estado; a área da segurança social, que se encontra numa situação delicada, como o PS reconhece
ao ponto de lhe afetar as receitas de um novo imposto; e a promoção do investimento e da capitalização das
empresas, sem o que não haverá crescimento económico.
Para nós, a pertinência dos temas está muito para além das guerrilhas partidárias. Por isso, tivemos o cuidado
de construir os nossos contributos com uma base de trabalho aberta. Em vão o fizemos, pois o rolo compressor
do Governo e da sua obediente maioria tudo praticamente rejeitou.